Achei no youtube um trecho de Morte e vida severina (1954-55) recitado pelo próprio autor, o poeta João Cabral de Melo Neto. Para quem não sabe, esse lindo poema já foi musicado, já virou filme, peça de teatro e minissérie de televisão. O poema conta a jornada do retirante Severino (e de tantos outros) em busca de uma vida melhor.
A parte recitada pelo poeta é o monólogo final do poema, que reproduzirei aqui para vocês:
O CARPINA FALA COM O RETIRANTE QUE ESTEVE FORA, SEM TOMAR PARTE DE NADA
– Severino retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com a sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
de uma vida severina.