quarta-feira, 29 de julho de 2009

Uma Lição de Modesto Carone

Não sei se vocês sabem, mas um dos meus livros preferidos é O Castelo, de Franz Kafka. Meu exemplar possui a tradução de Modesto Carone, considerado não só o maior tradutor de Kafka no Brasil, como também um dos seus mais importantes comentadores. Ao ler a Folha de São Paulo no último dia 19, encontrei uma belíssima surpresa que dividirei a seguir com vocês: um trecho do novo livro desse admirável escritor/tradutor, Lição de Kafka, que será publicado no final desse mês pela Companhia das Letras. Anotações breves sobre um conto curto ENSAIO INÉDITO ANALISA FÁBULA EM QUE KAFKA CONSTRÓI O MONÓLOGO DE UM RATO DIANTE DE UMA ESCOLHA "RACIONAL"
Entre os contos de Kafka, consta pelo menos um que é pouco conhecido. Referimo-nos a "Pequena Fábula":
"Ah", disse o rato, "o mundo torna-se a cada dia mais estreito. A princípio era tão vasto que me dava medo, eu continuava correndo e me sentia feliz com o fato de que finalmente via à distância, à direita e à esquerda, as paredes, mas essas longas paredes convergem tão depressa uma para a outra que já estou no último quarto e lá no canto fica a ratoeira para a qual eu corro". -"Você só precisa mudar de direção", disse o gato, e devorou-o.
Trata-se de uma fábula porque nesse relato intervêm animais falantes. Mas não existe aqui -como é o caso da tradição das fábulas- uma moral explícita da história no final. A ausência dessa moral da história levou muitos intérpretes a não aceitarem que o caso é de fábula, embora o título seja esse, e sim de uma parábola, que apresenta a história como se ela estivesse ao lado de outra, com a qual estabelece relações de analogia.
Basicamente o texto é um monólogo do rato. O monólogo -sempre expressão do isolamento- começa com uma interjeição (Ah!). Essa interjeição no entanto é logo absorvida no relato de algo experimentado antes (o mundo era vasto, mais amplo que agora). A repetição da primeira pessoa (eu) e as expressões "medo" e "feliz", que exprimem afetos e se contradizem mutuamente, provocam o leitor a algum tipo de participação. As experiências do rato são apresentadas como sendo ativas só uma vez: "Eu via".
As demais são vividas passivamente: o mundo torna-se mais estreito, as paredes convergem uma para a outra, lá no canto fica a ratoeira. Tudo se passa como se o rato se visse num processo que corre com autonomia, naturalmente, sem intervenção do personagem narrador. O resto deve, assim, submeter-se à noção de que a sua situação é sem saída. O rato sempre foi movido -impulsionado- pelo medo; é isso que o faz correr para a frente, para o que é amplo e vasto, e perder-se no que é necessariamente estreito.
O fecho lacônico da peça tem uma precisão lógica que não é necessariamente cínica, e aparece sob a forma de um conselho desinteressado. O verbo "devorou" ("frass", do verbo "comer" destinado aos animais) assinala um acontecimento esperado num lugar inesperado e assume sua força no momento em que alcança uma nova dimensão que parecia faltar ao texto.
O que Kafka diz nessa micronarrativa? Diz, entre outras coisas, que a última saída da razão leva à ruína.
Ou seja: que todos os esforços para superar o medo e a derrocada significam apenas gradações da falta de liberdade objetiva do mundo. Para o rato não existe escolha, ou melhor: essa escolha só pode se dar entre as alternativas de submeter-se à violência da ratoeira ou à violência do gato. Nas "Conversações com Kafka", de Gustav Janouch, o poeta de Praga afirma, a certa altura, o seguinte: "Existe muita esperança, mas não para nós".
Era esse o teor, a base, da sua dialética negativa – e não há como discordar da coerência do humor negro contido nesta fábula.
(Texto extraído do jornal Folha de São Paulo, de 19 de julho de 2009.)
Então, o que me dizem?

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Imagens das Férias

Queridos,
passei alguns dias em Vassouras, interior do estado do Rio de Janeiro, e pude conferir o Festival Vale do Café 2009, que recomendo a todos. Foi ótimo!
Para quem não conhece, Vassouras é uma cidade importantíssima para a história do café no Brasil. Conhecida como a “cidade dos barões”, ela teve seu apogeu na segunda metade do século XIX.
O evento Cortejo de Tradições aconteceu no último sábado dia 25 de julho, na praça Barão de Campo Belo, no centro histórico da cidade.

Na praça Barão de Campo Belo, com a Matriz Nossa Senhora da Conceição ao fundo
A seguir coloco algumas imagens registradas por mim da lindíssima apresentação de jongo (patrimônio cultural imaterial registrado pelo IPHAN) realizada pela comunidade quilombola da Fazenda São José, de Valença.

"O jongo é uma forma de expressão afro-brasileira que integra percussão de tambores, dança coletiva e práticas de magia."
"É praticado nos quintais de periferia urbana e de algumas comunidades rurais do sudeste brasileiro."

"O jongo é uma forma de louvação aos antepassados, consolidação de tradições e afirmação de identidades."

"Tem suas raízes nos saberes, ritos e crenças dos povos africanos, principalmente os de língua bantu."

"São sugestivos dessas origens o profundo respeito aos ancestrais, a valorização dos enigmas cantados e o elemento coreográfico da umbigada."
"No Brasil o jongo consolidou-se entre os escravos que trabalhavam nas lavouras de café e cana-de-açúcar, no sudeste brasileiro, principalmente no vale do Rio Paraíba. Nos tempos da escravidão, a poesia metafórica do jongo permitiu que os praticantes da dança se comunicassem por meio dos pontos que os capatazes e senhores não conseguiam compreender. Sempre esteve assim, numa posição marginal onde os negros falam de si, de sua comunidade, através da crônica e da linguagem cifrada.” (Texto extraído do Portal do IPHAN)
Para saber mais sobre o jongo, acesse: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?retorno=detalheInstitucional&sigla=Institucional&id=13183
Então, o que me dizem?

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Boas Férias!!!

Queridos,
aproveitem bastante as férias!
Descansem, relaxem, leiam coisas legais, enfim, recarreguem as energias.
A propósito, eu já sei como vou recarregar as minhas, olha só:

Nada como um banho de cachoeira, né?

Beijos,

Luciana