Maria Luiza M. Abaurre
O poder da Igreja
Ao longo da Idade Média a
Igreja Católica cresceu, acumulou vastas extensões de terra, enriqueceu e
concentrou um grande poder.
O clero estimulava as pessoas a buscar redenção na total submissão à Igreja, que representava no mundo, a vontade de Deus. Essa postura servil perante Deus e a Igreja é denominada teocêntrica (Deus, perfeito e superior, no centro de todas as coisas).
Uma importante manifestação de poder da Igreja medieval era seu controle quase absoluto da produção cultural. Nessa época apenas 2% da população europeia era alfabetizada. A escrita e a leitura estavam praticamente restritas aos mosteiros.
Os religiosos reproduziam ou traduziam textos sagrados do cristianismo e obras de grandes filósofos da Antiguidade, desde que não representassem uma ameaça ao poder da Igreja.
Como a circulação de textos dependia da reprodução manuscrita, quase feita sob encomenda, a divulgação da cultura tornava-se ainda mais difícil, porque o número de cópias em circulação era bem pequeno.
O uso do latim como língua literária também contribuía para dificultar o acesso aos textos. Poemas e canções eram compostos em latim por monges eruditos que vagavam de feudo em feudo e, desse modo, divulgavam suas composições que, na maior parte, abordavam temas religiosos.
A sociedade
medieval
A sociedade se organizava em
torno de grandes proprietários de terra, conhecidos como senhores feudais. Cada senhor feudal tinha uma
pequena corte, formada por nobres empobrecidos, cavaleiros, camponeses livres e
servos. Tais indivíduos estavam
unidos ao senhor feudal por uma relação de dependência pessoal: a vassalagem.
Os moradores do feudo
juravam defender as terras do seu senhor e, como seus vassalos, recebiam o
direito de viver na propriedade, cultivar parte das terras, além de receberem
proteção.
A posição de destaque nessas
cortes era ocupada pelos cavaleiros que, em tempos de ataques e invasões
bárbaras, formavam o exército do senhor feudal.
As relações entre nobres,
cavaleiros e senhores feudais eram regidas por um código de cavalaria baseado
na lealdade, na honra, na bravura e na cortesia.
Trovadorismo: poesia e cortesia
Sem o perigo de novas
invasões, a Europa passou por um período de progresso econômico e intercâmbio
cultural. Os cavaleiros viam-se de uma
hora para outra sem função social. Era preciso criar para eles um novo papel. A
solução veio com a idealização de um código de comportamento que ficou
conhecido como amor cortês.
Esse código transferia a
relação de vassalagem entre cavaleiros e senhores feudais para o louvor às
damas da sociedade.
Os praticantes do amor
cortês teriam a chance de demonstrar, diante da corte, que o valor pessoal não se fundamentava apenas no sangue e
nas proezas militares, mas podia ser identificado como comportamento social: a
cortesia.
Assim, nas cortes dos
senhores feudais, centros de atividade artística da Europa medieval, se exibiam
os jograis: recitadores, cantores, músicos ambulantes que eram contratados pelo senhor para divertir a
corte. As cantigas apresentadas pelos jograis, eram compostas por nobres que se
denominavam trovadores, porque praticavam a arte de trovar.
Enquanto nos mosteiros
circulavam os textos escritos em latim, nos castelos e nas cortes circulava a
literatura oral, produzida em língua local, voltada para o deleite dos homens e
das mulheres da nobreza e para legitimar o novo papel social assumindo pelos cavaleiros. As regras de conduta
social expressas no código de cavalaria passaram a definir o fazer literário
medieval.
Projeto literário do Trovadorismo
• Literatura oral para entreter os homens e as
mulheres da nobreza.
• Redefinição do papel dos cavaleiros nas cortes.
• Criação de estruturas literárias equivalentes às da
relação de vassalagem.
• Sociedade: subserviência total a Deus
(teocentrismo) e obediência ao senhor feudal, representadas literariamente pela
submissão do trovador à dama (poesia – cantigas).
As regras de conduta amorosa
Como testemunhas do
comportamento do trovador e da dama a quem ele dirigia seus galanteios, os
membros da corte julgavam o comportamento social de ambos. Era função da dama
reconhecer e recompensar o trovador que cumprisse todas as regras do amor
cortês. Se não fizesse isso, o trovador tinha o direito de denunciá-la
publicamente por meio de cantigas satíricas.
Segundo o código de amor
cortês, um trovador deveria expressar seus elogios e súplicas a uma mulher da
nobreza, casada, que tivesse uma posição social reconhecida. Essa posição
social era necessária para que fosse criada, nos textos literários, uma
estrutura lírica equivalente à relação de vassalagem. Por esse motivo, os
termos que definiam as relações feudais foram transpostos para as cantigas: a mulher
era a senhora, o homem era seu servidor; prezava-se a generosidade, a lealdade
e, acima de tudo, a cortesia. A avareza e a vilania eram comportamentos
desprezados.
O trovador não devia
revelar, em sua cantiga, o nome da dama a quem dirigia os elogios, mas
precisava apresentá-la de modo a permitir que os membros da corte a
identificassem. Uma série de expressões era utilizada para nomear uma dama
(senhor, mia senhor, senhor fremosa etc).
O amor era visto como uma
forma de sublimação dos desejos que transformava o trovador em homem cortês. A
dama era vista sob uma perspectiva idealizada, de perfeição absoluta.
(Fonte: ABAURRE, Maria Luiza e PONTARA, Marcela. Literatura
Brasileira.Tempos, Leitores e Leituras. Ensino Médio. São Paulo: Editora
Moderna, 2005 )
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