sexta-feira, 22 de outubro de 2010

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Saudades de Bandeira

Última canção do beco

Beco que cantei num dístico
Cheio de elipses mentais,
Beco das minhas tristezas,
Das minhas perplexidades
(Mas também dos meus amores,
Dos meus beijos, dos meus sonhos),
Adeus para nunca mais! 

Vão demolir esta casa
Mas meu quarto vai ficar,
Não como forma imperfeita
Neste mundo de aparências:
Vai ficar na eternidade,
Com seus livros, com seus quadros,
Intacto, suspenso no ar!

Beco de sarças de fogo
De paixões sem amanhãs
Quanta luz mediterrânea
No esplendor da adolescência
Não recolheu nestas pedras
Orvalho das madrugadas,
A pureza das manhãs!

Beco das minhas tristezas.
Não me envergonhei de ti!
Foste rua de mulheres?
Todas são filhas de Deus!
Dantes foram carmelitas...
E era só de pobres quando,
Pobre, vim morar aqui.


Lapa – Lapa do Desterro – ,
Lapa que tanto pecais!
(Mas quando bate seis horas,
Na primeira voz dos sinos,
Como na voz que anunciava
A conceição de Maria
Que graças angelicais!)


Nossa Senhora do Carmo, 
De lá de cima do altar,
Pede esmolas para os pobres,
- para mulheres tão tristes,Para mulheres tão negras,
Que vêm nas portas do templo
De noite se agasalhar. 


Beco que nasceste à sombra
De paredes conventuais,
És como a vida, que é santa
Pesar de todas as quedas.
Por isso te amei constante
E canto para dizer-te
Adeus para nunca mais!

         25 de março de 1942 


Então, o que me dizem?

sábado, 9 de outubro de 2010

Mímesis e a reflexão contemporânea


Mais um projeto lindo!
Mais uma vez trabalhando com meu querido Luiz.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Lançamento do livro Judeus cariocas

No dia 21 de outubro será realizado o lançamento do livro Judeus cariocas, o segundo volume da série imigrantes no Rio de Janeiro.
Um projeto lindo
A coleção é uma iniciativa do Instituto Light com a parceria da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro com produção da Editora Cidade Viva e coordenação do Instituto Cultural Cidade Viva. 
Keila Grinberg e Flávio Limoncic assinam os textos, Milton Guran assina a Fotografia e eu, a pesquisa iconográfica.
Vale a pena conferir!



terça-feira, 5 de outubro de 2010

Tão ontem

TÃO ONTEM
(Fábio M. e Laura F.)

As luzes, vestidos, paletós, abraços e soluços fazem com que um estranho sentimento entre, sem convite, no ambiente já carregado de emoções, trazendo consigo o sabor agridoce da reminiscência. Esse penetra consegue me abalar, me envolver, e trazer emoções já há muito tempo trancadas na minha caixa de pandora: medos e expectativas suprimidos no tempo-espaço.
Aquelas mesmas pessoas – que deram à minha vida outro tom, sentido e finalidade nos últimos anos – ali estavam reunidas pela última vez. A cerimônia tem seu início. A mente escapa no momento em direção à rua do passado, com a avenida da saudade, no bairro não tão distante, ainda marcante, ainda próximo e, ao mesmo tempo, tão perto de ser somente mais uma página virada.
Delibero a memória ao longo da avenida, toda a expectativa pré e pós aprovação. O medo, a angústia e a surpresa que a cada dia se apresentavam com uma nova face. Chegamos ao coração do coração do Brasil, um lugar vulgarmente chamado por cidade maravilhosa. Novas pessoas, novos lugares, novos horizontes se formando, novas expectativas e novas frustrações. As amizades se mostraram, cada vez mais, como o alicerce para a sobrevivência dentro desse novo universo. São elas que tornam possível sobreviver em meio à frenética rotina, resistir à saudade que insiste em latejar, à mente que escapa do corpo e, até mesmo, à liberdade que grita.
Toc-toc. A porta abre e vemos que não estamos sozinhos: abraços aconchegam e fazem com que o soluço cesse, que a solidão se esvaia e que o sorriso aflore. Amigos. Os mesmos que nos sustentam, em alguns momentos nos levam ao desespero. Amizades inconstantes, novos laços que se formam e desestruturam-se a todo momento, entre jardins e dias nublados, céu azul e mar agitado.
Neste momento, chegando ao fim (e por que não ao começo?), o sentimento acumulado vem à tona com tamanha intensidade que é possível suprimi-lo. São emoções, razões, medos e expectativas. Uma voz conhecida ao longe anuncia o início do espetáculo. Agora não há meios de voltar, a rua é bifurcada, escolher é o destino. Enfrentar com força e ânimo é a única solução. É agora o momento. Ouço o choro, os aplausos e, de repente, adeus. 

***



Queridos Fábio e Laura,
obrigada.