terça-feira, 5 de outubro de 2010

Tão ontem

TÃO ONTEM
(Fábio M. e Laura F.)

As luzes, vestidos, paletós, abraços e soluços fazem com que um estranho sentimento entre, sem convite, no ambiente já carregado de emoções, trazendo consigo o sabor agridoce da reminiscência. Esse penetra consegue me abalar, me envolver, e trazer emoções já há muito tempo trancadas na minha caixa de pandora: medos e expectativas suprimidos no tempo-espaço.
Aquelas mesmas pessoas – que deram à minha vida outro tom, sentido e finalidade nos últimos anos – ali estavam reunidas pela última vez. A cerimônia tem seu início. A mente escapa no momento em direção à rua do passado, com a avenida da saudade, no bairro não tão distante, ainda marcante, ainda próximo e, ao mesmo tempo, tão perto de ser somente mais uma página virada.
Delibero a memória ao longo da avenida, toda a expectativa pré e pós aprovação. O medo, a angústia e a surpresa que a cada dia se apresentavam com uma nova face. Chegamos ao coração do coração do Brasil, um lugar vulgarmente chamado por cidade maravilhosa. Novas pessoas, novos lugares, novos horizontes se formando, novas expectativas e novas frustrações. As amizades se mostraram, cada vez mais, como o alicerce para a sobrevivência dentro desse novo universo. São elas que tornam possível sobreviver em meio à frenética rotina, resistir à saudade que insiste em latejar, à mente que escapa do corpo e, até mesmo, à liberdade que grita.
Toc-toc. A porta abre e vemos que não estamos sozinhos: abraços aconchegam e fazem com que o soluço cesse, que a solidão se esvaia e que o sorriso aflore. Amigos. Os mesmos que nos sustentam, em alguns momentos nos levam ao desespero. Amizades inconstantes, novos laços que se formam e desestruturam-se a todo momento, entre jardins e dias nublados, céu azul e mar agitado.
Neste momento, chegando ao fim (e por que não ao começo?), o sentimento acumulado vem à tona com tamanha intensidade que é possível suprimi-lo. São emoções, razões, medos e expectativas. Uma voz conhecida ao longe anuncia o início do espetáculo. Agora não há meios de voltar, a rua é bifurcada, escolher é o destino. Enfrentar com força e ânimo é a única solução. É agora o momento. Ouço o choro, os aplausos e, de repente, adeus. 

***



Queridos Fábio e Laura,
obrigada.

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