MINHA MÃE
Minha mãe,
minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo
da vida, minha mãe.
Canta a
doce cantiga que cantavas
Quando eu
corria doido ao teu regaço
Com medo
dos fantasmas do telhado.
Nina o meu
sono cheio de inquietude
Batendo de
levinho no meu braço
Que estou
com muito medo, minha mãe.
Repousa a luz amiga dos teus olhos
Nos meus
olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor
que me espera eternamente
Para ir embora.
Expulsa a angústia imensa
Do meu ser
que não quer e que não pode
Dá-me um
beijo na fronte dolorida
Que ela
arde de febre, minha mãe.
Aninha-me
em teu colo como outrora
Dize-me bem
baixo assim: - Filho, não temas
Dorme em
sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme. Os
que de há muito te esperavam
Cansados já
se foram para longe.
Perto de ti
está tua mãezinha
Teu irmão,
que o estudo adormeceu
Tuas irmãs
pisando de levinho
Para não
despertar o sono teu.
Dorme, meu
filho, dorme no meu peito
Sonha a
felicidade. Velo eu.
Minha mãe,
minha mãe, eu tenho medo
Me apavora
a renúncia. Dize que eu fique
Dize que eu
parta, ó mãe, para a saudade.
Afugenta
este espaço que me prende
Afugenta o
infinito que me chama
Que eu
estou com muito medo, minha mãe.
(Moraes, Vinicius de. Poesia Completa e Prosa, 2004, p. 195)
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