Por Luciana Messeder
Estilo s.m. 1 maneira peculiar de se expressar, de
se vestir, de viver etc. 2 tendência
artística 3 elegância 4 haste com o que os antigos escreviam
em tábuas cobertas de cera. (Dicionário
Houaiss)
A palavra estilo,
atualmente, apresenta uma variedade de conceitos e, com eles, numerosas
tentativas de defini-la. Tornou-se corrente em nossos dias chamar de estilo
“tudo que possa apresentar características particulares, das coisas mais banais
e concretas às mais altas criações artísticas”(Martins, 2000, p. 1).
No entanto, se
procurarmos pela origem dessa palavra, veremos que seu significado era bastante
específico e modesto. Segundo Martins “designava em latim – stillus – um instrumento pontiagudo,
usado pelos antigos para escrever sobre tabuinhas enceradas e daí passou a
designar a própria escrita e o modo de escrever” (Martins, op. cit., p. 1).
Apesar de sua origem
modesta, os estudos acerca da língua e seus sistemas expressivos – a partir,
principalmente, do século XX – tornaram a simples pergunta “O que é estilo?” além
de embaraçosa, bastante complexa. [1]
Se acompanharmos
historicamente os principais estudos – dentro de uma nova disciplina, a
Estilística, surgida no século XX e ligada à Lingüística –, que envolvem as
definições de estilo, veremos “que vários linguistas têm procurado
classificá-las [as definições] de acordo com os critérios em que elas se
fundamentam”(Martins: op. cit. p. 1). Dessa forma, “desvio de norma”;
“elaboração”; “conotação”; “adição”; “escolha”; “conjunto de características
individuais”; “conjunto de características coletivas”, são algumas definições
do fenômeno estilo e, a partir delas, podemos vislumbrar a complexidade que tal
estudo abarca.
Para a feitura do
presente artigo, a definição que Othon Moacyr Garcia dá à palavra estilo será de
fundamental importância:
“Estilo é tudo aquilo
que individualiza obra criada pelo homem, como resultado de um esforço mental,
de uma elaboração do espírito, traduzido em idéias, imagens ou formas
concretas. A rigor, a natureza não tem estilo; mas tem-no o quadro em que o
pintor a retrata ou a página em que o escritor a descreve” (Garcia, 1996, p.
103).
Estilo e Língua portuguesa
A língua é um repertório
de possibilidades expressivas, um sistema posto à disposição dos usuários que o
utilizam de acordo com suas necessidades de expressão. Cada usuário pratica uma
escolha, i. e., um estilo, quando produz enunciados.
No domínio da Língua
portuguesa várias obras se ocupam do estudo de sua expressividade. Um
importante estudo, sem dúvida, é Contribuição
à estilística portuguesa (1952), de Mattoso Câmara Jr., na qual o autor
considera a Estilística uma disciplina complementar da Gramática, pois enquanto
esta estuda a língua como meio de representação da realidade, a Estilística
estuda a língua como meio de expressão. Para o citado autor, o estilo seria
justamente um tipo de uso da língua que ultrapassaria o plano intelectivo,
alcançando efeitos expressivos. [2]
As possibilidades
estilísticas da Língua portuguesa, isto é, “os meios que ela oferece aos que
falam ou escrevem para manifestarem estados emotivos e julgamentos de valor, de
modo a despertarem em quem ouve ou lê uma reação também de ordem afetiva” (Martins,
op. cit., p. 23), podem ser examinadas em três níveis, a saber: fonético,
léxico e sintático.
Dessa maneira, o fato
estilístico pode ser apreendido por meio da Estilística fônica (valores
expressivos de natureza sonora observáveis nas palavras e no enunciado); da
Estilística léxica (aspectos expressivos das palavras ligados aos seus components
semânticos e morfológicos) e da Estilística sintática (valores expressivos
ligados à constituição das frases). [3]
Notas
[1] Processo análogo ao que ocorre com a pergunta “O que é literatura?”.
[1] Processo análogo ao que ocorre com a pergunta “O que é literatura?”.
[2] Aqui
vale uma reflexão acerca da relação Expressividade/Literatura: ao longo do
século passado, estudiosos renomados como Leo Sptzer, Erich Auerbach, Dámaso
Alonso e Amado Alonso observaram em seus estudos que todo trabalho literário
pressupõe uma reflexão acerca dos recursos expressivos da língua. Assim, a
partir de suas investigações, puderam comprovar que na obra literária o fato
estilístico atinge sua máxima intensidade. Essa corrente, conhecida como
Estilística literária, como nos lembra Martins, tinha como objetivo a busca
pela natureza poética do texto. Vale lembrar que, de acordo com a autora, “o
conhecimento da língua do ângulo da expressividade constitui o passo inicial
para a compreensão e valoração dos textos literários” (Martins, op. cit., p.
23).
[3] Torna-se
importante ressaltar a flexibilidade desses três níveis: se no nível fônico, i.
e., a parte sonora da língua encontramos um repertório bem delimitado – não há
possibilidade de o falante criar novos fonemas –, nos domínios léxico e
sintático observamos que o usuário possui uma liberdade mais ampla, o que lhe
permite a possibilidade de produzir um número infinito de frases novas,
compreensíveis e gramaticalmente corretas.
Referências Bibliográficas
CÂMARA, Jr., Mattoso. Contribuição à estilística portuguesa, 1952.
GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação em prosa moderna: aprender a
escrever, aprendendo a pensar.
Rio de Janeiro: Editora fundação Getúlio Vargas, 1996.
HOUAISS, Antônio e VILLAR, Mauro
Salles. Dicionário Houaiss da língua
portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003.
MARTINS, Nilce Sant’Anna Martins. Introdução à estilística: a expressividade
da língua portuguesa. São Paulo: T. A. Queiroz, 2000.
P.S.: Em breve publicarei a Parte II.
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