Samba canção
Tantos poemas que perdi.
Tantos que ouvi, de graça,
pelo telefone – taí,
eu fiz tudo pra você gostar,
fui mulher vulgar,
meia-bruxa, meia-fera,
risinho modernista
arranhando na garganta,
malandra, bicha,
bem viada, vândala,
talvez maquiavélica,
e um dia emburrei-me,
vali-me de mesuras
(era comércio, avara,
embora um pouco burra,
porque inteligente me punha
logo rubra, ou ao contrário, cara
pálida que desconhece
o próprio cor-de-rosa,
e tantas fiz, talvez
querendo a glória, a outra
cena à luz de spots,
talvez apenas teu carinho,
mas tantas, tantas fiz...
Confira o vídeo de Ana C. recitando este poema aqui.
"Ninguém aprende sozinho. Tampouco ninguém ensina ninguém. Os homens aprendem em comunhão, mediatizados pelo mundo". Paulo Freire
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
"Imitação da água", de João Cabral de Melo Neto
Imitação da água
De flanco sobre o lençol,
paisagem já tão marinha,
a uma onda deitada,
na praia, te parecias.
Uma onda que parava
ou melhor: que se continha;
que contivesse um momento
seu rumor de folhas líquidas.
Uma onda que parava
naquela hora precisa
em que a pálpebra da onda
cai sobre a própria pupila.
Uma onda que parara
ao dobrar-se, interrompida,
que imóvel se interrompesse
no alto de sua crista
e se fizesse montanha
(por horizontal e fixa),
mas que ao se fazer montanha
continuasse água ainda.
Uma onda que guardasse
na praia cama, finita,
a natureza sem fim
do mar de que participa,
e em sua imobilidade,
que precária se adivinha,
o dom de se derramar
que as águas faz femininas
mais o clima de águas fundas,
a intimidade sombria
e certo abraçar completo
que dos líquidos copias.
De flanco sobre o lençol,
paisagem já tão marinha,
a uma onda deitada,
na praia, te parecias.
Uma onda que parava
ou melhor: que se continha;
que contivesse um momento
seu rumor de folhas líquidas.
Uma onda que parava
naquela hora precisa
em que a pálpebra da onda
cai sobre a própria pupila.
Uma onda que parara
ao dobrar-se, interrompida,
que imóvel se interrompesse
no alto de sua crista
e se fizesse montanha
(por horizontal e fixa),
mas que ao se fazer montanha
continuasse água ainda.
Uma onda que guardasse
na praia cama, finita,
a natureza sem fim
do mar de que participa,
e em sua imobilidade,
que precária se adivinha,
o dom de se derramar
que as águas faz femininas
mais o clima de águas fundas,
a intimidade sombria
e certo abraçar completo
que dos líquidos copias.
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Dissertação
CARACTERÍSTICAS
DA DISSERTAÇÃO
O texto
dissertativo é, por definição, aquele em que desenvolvemos um tema com o
objetivo de esclarecer seus aspectos principais e, eventualmente, apresentar
nosso ponto de vista. Quando esse tipo de texto faz apenas um panorama das
idéias principais relativas ao tema, sem defender uma opinião específica, ele
recebe a designação de dissertação expositiva; quando, ao contrario, o objetivo
do autor é convencer os leitores de seu ponto de vista, trata-se de uma
dissertação argumentativa.
Em
geral, as provas de vestibular não costumam fazer menção a textos puramente
expositivos. Espera-se que o candidato apresente senso critico em sua redação
e, para isso, nada melhor do que redigir uma argumentação propriamente dita.
Assim, daqui em diante, sempre que falarmos de dissertação, faremos referencia
aos textos de caráter argumentativo, mesmo que essa denominação não seja
explicitada.
DEFESA DE UM PONTO DE VISTA
Considerando o caráter argumentativo de
que falamos, não será difícil perceber que é necessário “tomar partido” em
qualquer redação de vestibular. Precisamos de todas as armas necessárias a
levar o leitor a concordar com
nossa opinião. Essa é uma tarefa que faz uso constante do raciocínio lógico e
da organização das idéias.
Cumpre
ressaltar, a esse propósito, que as Bancas não avaliam qual é o ponto de vista
do candidato, uma vez que todos temos liberdade de pensamento. No entanto, como
em sociedade não basta ter uma opinião, sendo preciso justificá-la e
fundamentá-la, os examinadores procuram avaliar essas competências na correção
das provas.
LINGUAGEM IMPESSOAL
Por
se tratar de texto técnico, a dissertação deve tratar do tema proposto com uma
linguagem impessoal. Alem da
credibilidade alcançada, obtém-se a vantagem de tornar a redação até mesmo mais
consistente, ao tratar da opinião defendida como uma verdade indiscutível. É
por essa razão que evitamos a 1a pessoa do singular (“eu”; “penso”;
“na minha opinião” etc.), o que alem de tudo, seria redundante, uma vez que o
texto é escrito por apenas uma pessoa e contém suas idéias.
OBJETIVIDADE
Alem
da linguagem, espera-se que o redator de uma dissertação seja capaz de tratar o
tema com critérios objetivos. Dito de outro modo, seria inadequado deixar-se
influenciar por aspectos emocionais e religiosos, por exemplo, ao discutir um
tema como legalização do aborto. Embora existam razões respeitáveis do ponto de
vista puramente irracional, eles não se combinam com o caráter exclusivamente
racional da dissertação.
MODALIDADE ESCRITA/PADRÃO CULTO
Ninguém
precisa ter conhecimento profundo de gramática para saber que existem profundas
diferenças entre o uso oral do idioma e sua utilização escrita. Palavras como “aí”
e “coisa”, por exemplo, só fazem sentido se houver um contexto físico que
esclareça seus significados. A repetição de palavras, também, é fundamental em
um dialogo, para que o assunto permaneça despertando atenção. Na escrita,
entretanto, a imprecisão do vocabulário e as repetições lexicais, entre outros
aspectos, constituem inadequações a serem evitadas.
Ao
mesmo tempo, por se tratar de uma prova integrante da disciplina Língua
Portuguesa, a redação deve ser produzida dentro dos limites da norma culta, ou
seja, sem erros gramaticais. Isso não significa que precisemos ser
sofisticados; um bom texto, claro e natural, pode fazer uso dessa norma e ser
perfeitamente aceitável para o leitor comum.
ESTRUTURA LÓGICA
Assim
como uma conversa, um filme e um dia têm começo, meio e fim, também uma
dissertação é dividida em etapas, denominadas, respectivamente de introdução,
desenvolvimento e conclusão. A cada uma corresponde uma função específica
dentro da estratégia maior de convencer o leitor. Ao mesmo tempo, o desempenho
de cada função pode ser feito de maneira original e inteligente, fugindo ao
puro didatismo, conforme veremos depois.
QUALIDADES
Um
texto dissertativo que se enquadre nos parâmetros descritos até aqui não
necessariamente “merece” nota dez. Isso porque, nesse caso, o aluno estaria
apenas cumprindo obrigações, Alem dos aspectos fundamentais, portanto, a
redação “perfeita” deve apresentar coesão, clareza, coerência, concisão,
profundidade, senso critico e criatividade. Não é pouco, sem dúvida. Por isso,
não há mágica que faça um aluno redigir melhor da noite para o dia. Apenas aos
poucos, com dedicação e reflexão, será Possível incorporar tantas qualidades ao
próprio texto.
(Fonte: Rabin, Bruno. Redação. Módulo 1. Rio de Janeiro:
Fundação Cecierj, 2007, p. 24-5)
sábado, 31 de agosto de 2013
Um pouco de Cabral
Achei no youtube um trecho de Morte e vida severina (1954-55) recitado pelo próprio autor, o poeta João Cabral de Melo Neto. Para quem não sabe, esse lindo poema já foi musicado, já virou filme, peça de teatro e minissérie de televisão. O poema conta a jornada do retirante Severino (e de tantos outros) em busca de uma vida melhor.
A parte recitada pelo poeta é o monólogo final do poema, que reproduzirei aqui para vocês:
O CARPINA FALA COM O RETIRANTE QUE ESTEVE FORA, SEM TOMAR PARTE DE NADA
– Severino retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com a sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
de uma vida severina.
quarta-feira, 15 de maio de 2013
Um pouco de Drummond
Poemas recitados por Carlos Drummond de Andrade no disco Antologia Poética (1977), que estão disponíveis no youtube:
Obrigado
O Lutador
Os ombros suportam o mundo
Procura da poesia
Viagem na família
Confissão
Mãos dadas
Mundo Grande
E agora, José?
O Mito
Confidência de Itabirano
Morte do leiteiro
Quadrilha
Obrigado
O Lutador
Os ombros suportam o mundo
Procura da poesia
Viagem na família
Confissão
Mãos dadas
Mundo Grande
E agora, José?
O Mito
Confidência de Itabirano
Morte do leiteiro
Quadrilha
sábado, 13 de abril de 2013
Cineclube LerUERJ, 18/04/13
Queridos,
na próxima quinta-feira, estarei no Cineclube do LerUERJ batendo um papo sobre as novas tecnologias na sala de aula.
A exibição do filme "A rede social" começará às 14:00h, ok?
Espero vocês!
P.S.: A foto do banner foi tirada pela professora da UERJ Stela Guedes, a quem agradeço.
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LerUERJ
segunda-feira, 11 de março de 2013
Petição para a destituição de Marco Feliciano
Petição
para a destituição de Marco Feliciano da Presidência da Comissão de Direitos
Humanos da Câmara:
http://www.avaaz.org/po/petition/Imediata_destituicao_do_Pr_Marco_Feliciano_da_Presidencia_da_Comissao_de_Direitos_Humanos_da_Camara_Federal/?bNXFqdb&v=22810
domingo, 10 de março de 2013
sexta-feira, 8 de março de 2013
quarta-feira, 6 de março de 2013
Macunaíma (1928), de Mário de Andrade
Alguns tópicos sobre Macunaíma (1928),
de Mário de Andrade:
- Herói sem caráter: é uma analogia à formação da identidade brasileira que, tal como o herói (anti-herói), possui uma identidade cultural flutuante, em construção.
- Mário de Andrade trabalha com temas da literatura oral, que são universais, emprestando “cores” locais a estes temas. Macunaíma é uma variante desta literatura, pois se mantém fiel à sua estrutura. O autor rompe completamente com a verossimilhança: o herói se desloca geograficamente (anatopismo) e temporalmente (anacronismo) rompendo as fronteiras do verossímel, pois no maravilhoso tudo é possível.
- A lógica da narrativa é o trabalho do autor com diferentes materiais, colhidos na cultura popular e reunidos à maneira dos rapsodos (fazendo os ajustes, colagens e montagens necessários), dando forma a uma configuração híbrida.
- A ironia e a sátira que o autor empresta ao discurso do estudante de direito (ridicularizando a gramatiquice dos puristas e a retórica bacharelesca) e ao orador de praça pública (que discursa prolixamente sobre o “dia do Cruzeiro”) são alguns exemplos desta ironia corrosiva presente na obra.
- Linguagem de Macunaíma: através de pesquisas sobre as diferentes manifestações lingüísticas, Mário organiza um “arsenal” de temos da cultura popular, fazendo por meio da linguagem um mapeamento etnográfico do Brasil. Durante toda a narrativa encontramos diversos episódios etiológicos de e etimológicos, nos quais Mário de Andrade “brinca” com essas origens (por exemplo, a invenção do futebol, do truco, da palavra “puíto”, da expressão “vá tomar banho”, do gesto “uma banana”, dentre outros).
- Outro ponto importante acerca da linguagem de Macunaíma é a paródia lingüística e estilística, recurso notadamente empregado em “Carta pras Incamiabas”. Neste episódio o autor colhe do linguajar quinhentista termos arcaicos que, mesclando-se com neologismos, fazem da carta (epístola, estilo de relato formal) uma grande sátira ao artificialismo da linguagem erudita cultuado pelas Academias. No plano compositivo da Carta, aproximamos o autor da influência oswaldiana (Memórias sentimentais de João Miramar). Torna-se curioso também notar que será apenas neste episódio que o autor retomará a utilização da pontuação. Além dos aspectos formais, a carta também apresenta (através da confusão de seu autor sobre o uso da língua falada “brasileira” e da língua escrita portuguesa) uma crítica ferrenha ao preconceito do plurilingüismo característico de um povo multirracial. Toda a rapsódia empregará uma linguagem oral (ortografia oralizada), coloquial e lúdica.
- Personagens: na criação de seus personagens, o autor utiliza vários recursos, como a apresentação de sua origem (por exemplo, Macunaíma e sua de tipologia mítica); deslocamento de personagem de uma cultura para outra (por exemplo, o rei Nagô) que é um recurso próprio da cultura oral; figuras da história do Brasil que se mesclam com os personagens ficcionais (por exemplo, Belmiro Gouveia, Bispo Sardinha); personagens míticos (presentes nas lendas indígenas e no folclore); personagens naturais (animais, vegetais e minerais) e ainda, personagens contemporâneos, podendo estes ser: ilustres (Rui Barbosa), de seu círculo de amizades (Blaise Cendrars, Raul Bopp) ou familiares (Ana Francisca de Almeida Leite Morais).
Um achado
imperdível na web é versão cinematográfica de Macunaíma. O filme de
1969, baseado na obra homônima de Mário de Andrade, foi escrito e dirigido por
Joaquim Pedro de Andrade.
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Literatura brasileira
domingo, 3 de março de 2013
Voltamos!
Queridos,
demorei um pouco mais do que o previsto, mas estou de volta!
Mãe de primeira viagem, não sabia que precisaria de férias das férias da Ana Luiza...
Esse mês darei início ao doutorado em Literatura Comparada na UERJ e, em breve, espero dividir com vocês um pouco da nova experiência.
Além disso, estou com muitas ideias para novos posts.
Aguardem!
P.S.: Não posso deixar passar em branco o fato de que hoje o maior ídolo do Flamengo completa 60 anos: Parabéns, Zico!!! Saudações rubro-negras!!!
demorei um pouco mais do que o previsto, mas estou de volta!
Mãe de primeira viagem, não sabia que precisaria de férias das férias da Ana Luiza...
Esse mês darei início ao doutorado em Literatura Comparada na UERJ e, em breve, espero dividir com vocês um pouco da nova experiência.
Além disso, estou com muitas ideias para novos posts.
Aguardem!
P.S.: Não posso deixar passar em branco o fato de que hoje o maior ídolo do Flamengo completa 60 anos: Parabéns, Zico!!! Saudações rubro-negras!!!
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