Pessoal,
aqui vocês encontrarão alguns trechos do livro de Maria Luiza Abaurre associados às letras de algumas cantigas em galego-português representativas do Trovadorismo.
Vale a pena conferir os links de cada cantiga: além de um vídeo repleto de imagens bacanas, vocês poderão escutá-las! Aproveitem!!!
Que tal relembrarmos como são divididas as cantigas líricas? São divididas em:
1. Cantigas de amor
"Exprimem uma paixão infeliz, o amor não correspondido que um trovador dedica a sua senhora. A estrutura da cantiga de amor apresenta alguns elementos característicos. O eu lírico é sempre masculino e representa um trovador que dirige os elogios a uma dama. O trovador, que sofre com frequência, se autodenomina coitado, cativo, aflito, enlouquecido, sofredor. A dama é identificada por termos que destacam suas qualidades físicas (fremosa, delgada, de bem parecer), morais (bondade, lealdade, comprida de bem), sociais (bom ser, falar mui ben). Ao comparar sua dama às outras da mesma corte, o eu lírico a apresenta como superior. As comparações também são utilizadas para acentuar as características do trovador: sua dor é a maior do que a de todos os outros e seus talentos superam os de seus rivais.
As cantigas de amor trazem poucas referências ao cenário, mas, quando elas ocorrem, costumam falar do ambiente da corte ou de uma natureza idealizada. Outra característica de sua estrutura é a presença de um número reduzido de personagens, além do trovador e da sua senhora: geralmente são feitas referências a algum rival ou a Deus." (Fonte: ABAURRE, Maria Luiza e PONTARA, Marcela. Literatura
Brasileira.Tempos, Leitores e Leituras. Ensino Médio. São Paulo: Editora
Moderna, 2005, p. 90-1)
Os diré, con
tristeza, lo que nunca pensé
que os diría,
señora,
porque veo
que por vos muero,
porque sabéis
que nunca os hablé
de cómo me
mataba vuestro amor:
porque sabéis
bien que de otra señora
yo no sentía
ni siento temor.
Todo esto me
hizo sentir
el temor que
de vos tengo,
y desde ahí
por vos dar a entender
que por otra
moriría, de ella tengo,
sabéis bien,
algo de temor;
y desde hoy,
hermosa señora mía,
si me matáis,
bien me lo habré buscado.
Y creed que
tendré gusto
de que me
matéis, pues yo sé con certeza
que en el
poco tiempo que he de vivir,
ningún placer
obtendré;
y porque
estoy seguro de esto,
si me
quisierais dar muerte, señora,
por gran
misericordia os lo tendré.
2. Cantigas de amigo
"De modo geral, as cantigas de amigo falam de uma relação amorosa concreta que acontece entre pessoas simples, que vivem no campo. O tema central dessas cantigas é a saudade. As personagens, o ambiente e a linguagem presentes nas cantigas líricas fazem com que elas representem diferentes universos da sociedade medieval.
Se, nas cantigas de amor, todas as referências dizem respeito aos membros da corte, à vida nos palácios, às damas sofisticadas e ricas, nas cantigas de amigo, elas dizem respeito aos sentimentos e à vida campesina, às moças simples que vivem nas aldeias e nos campos.
O eu lírico das cantigas de amigo é sempre feminino e representa a voz de uma mulher (amiga) que manifesta a saudade pela ausência do amigo (namorado ou amante). Como o trovador que compõe essas cantigas é um homem, a adoção de um eu lírico feminino acaba por apresentar, para os membros da corte, aquilo que os compositores consideravam a visão feminina da saudade e do amor.
O cenário é sempre caracterizado em um ambiente campesino. Várias personagens participam do 'universo amoroso' criado na cantiga de amigo, além da donzela e de seu amante: mãe, amigas, damas de companhia. Essas personagens são testemunhas do amor que a amiga dedica ao seu namorado.
Alguns termos são utilizados para caracterizar a mulher que fala nessas cantigas. Ela se identifica como louçã (clara, branca), velida (bonita), fremosa, delgada, de bem parecer. O tom das cantigas de amigo é mais positivo e otimista que o das cantigas de amor, porque, embora falem da saudade, tratam de um amor que é real e que ocorre entre pessoas de condição social semelhante. Por esse motivo, a amiga se define frequentemente como alegre (leda)." (ABAURRE, op. cit. p. 92)
Bailemos ya
nosotras tres, ay amigas,
bajo estos
avellanos floridos.
Y quien fuera
garrida como nosotras somos garridas,
Si sabe
amar,
bajo estos
avellanos floridos
vendrá a
bailar.
Bailemos ya
nosotras tres juntas, ay hermanas,
bajo estas
ramas avellanos
Y quien fuera
galana como nosotras somos galanas,
si sabe
amar,
bajo estas ramas de estos avellanos
vendrá a
bailar.
Por Dios,
amigas, mentiras no decimos
bajo estas
ramas floridas bailamos,
y quien buen
humor tenga como nosotras tenemos,
si sabe
amar,
bajo estas
ramas,
donde
nosotras bailamos,
vendrá a
bailar.
Cantigas líricas
"Já as cantigas de caráter satírico apresentavam críticas ao comportamento social de seus pares, difamavam alguns nobres ou denunciavam as damas que deixavam de cumprir seu papel no jogo do amor cortês. Elas podem ser de escárnio ou de maldizer.
1. Cantigas de escárnio
Nas cantigas de escárnio, o trovador critica alguém por meio de palavras de duplo sentido, para que não sejam facilmente compreendidas. O efeito satírico que caracteriza essas cantigas é obtido por meio de ironias, trocadilhos e jogos semânticos. De modo geral, ridicularizam o comportamento de nobres ou denunciam as mulheres que não seguem o código de amor cortês.
El que de la
guerra se llevó caballeros
y se fue a su
tierra a guardar los dineros,
no viene al
mayo.
El que de la
guerra se fue con maldad
y se fue a su
tierra a comprar fincas...
El que de la
guerra se fue con hostilidad,
pero no vino
cuando debía hacerlo por pleitesía...
El que de la
guerra se fue espantado
y se fue a su
tierra a ponerse el manton...
El que de la
guerra se fue
con gran
miedo a su tierra, sembrando vallas...
El que por la
guerra fue muy criticado,
aunque hizo
pintar un escudo en Burgos...
El que traía
el paño de lino,
pero no vino
para San Martín...
El que traía
el pendón enarbolado
y no ha
heredado el humor de su padre...
El que traía
pendón sin tener ni ocho caballeros
y a su gente
no le daba pan cocido...
El que sin
tener ni siete caballeros traía pendón
y cinta ancha
y gran escudo...
El que traía
pendón pero no tienda,
por lo que
ahora sé de su hazienda...
El que traía
pendón de seda gruesa,
aunque no
vino en el mes de marzo...
El que se
ausentó de la cita del día de San Martín
y se fue a su
tierra a beber los vinos...
El que huyó
de la frontera con miedo,
aunque traía
pendón pero no caldera...
El que robó a
los moros malditos
y se fue a su
tierra a robar cabritos,
no viene al
mayo.
2. Cantigas de maldizer
Nas cantigas de maldizer, o trovador faz suas críticas de modo direto, explícito, identificando a pessoa satirizada. Essas cantigas costumam apresentar linguagem ofensiva e de baixo calão. Muitas vezes, tratam das indiscrições amorosas de nobres e membros do clero." (ABAURRE, op. cit. p. 94)
Cantigas satíricas