Queridos,
que 2013 seja um ano de muita paz, saúde, alegria e sucesso para todos nós!
Feliz Ano Novo!!!
"Ninguém aprende sozinho. Tampouco ninguém ensina ninguém. Os homens aprendem em comunhão, mediatizados pelo mundo". Paulo Freire
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
PASSEI!!!!
Queridos,
uma notícia sensacional: passei no Doutorado em Literatura Comparada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro!!!
Estou muito, muito feliz!
Obrigada a todos que me ajudaram nesta nova empreitada!
Obrigada leitores do blog!
Que venha 2013!
Beijos,
Luciana
uma notícia sensacional: passei no Doutorado em Literatura Comparada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro!!!
Estou muito, muito feliz!
Obrigada a todos que me ajudaram nesta nova empreitada!
Obrigada leitores do blog!
Que venha 2013!
Beijos,
Luciana
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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
domingo, 9 de dezembro de 2012
sábado, 8 de dezembro de 2012
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
terça-feira, 6 de novembro de 2012
domingo, 28 de outubro de 2012
Curso Repensando a Leitura (LerUERJ)
Promovido pelo Programa de Leitura da UERJ (LerUERJ), o Curso Repensando a leitura como objeto de políticas, jogos e instrumentos de emancipação (realizado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, nos dias 24, 25 e 26 de outubro) foi um sucesso!
Mesa de Abertura: Samuel Araújo (Escola de Música da UFRJ), Bruno Deusdará (Depto. de Linguística do Instituto de Letras UERJ), Victor Hugo Adler Pereira (Instituto de Letras UERJ) e Ana Maria Miguel (Pesquisadora em Educação/Programa Salto para o futuro - TV Escola)
Detalhe do Auditório Cartola da UERJ
Uma ótima oportunidade para dialogar com professores interessados em (re)pensar a leitura e o ensino de Língua/Literatura, as políticas de formação de leitores e as novas realidades da sala de aula!
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Políticas Públicas
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Salve, Nossa Senhora Aparecida!
Oração a Nossa Senhora Aparecida
Ó incomparável Senhora da Conceição Aparecida,
Mãe de Deus, Rainha dos Anjos,
Advogada dos pecadores,
refúgio e consolação dos aflitos e
atribulados,
Virgem Santíssima,
cheia de poder e de bondade,
lançai sobre nós um olhar favorável,
para que sejamos socorridos por vós,
em todas as necessidades em que nos acharmos.
Lembrai-vos, ó clementíssima Mãe Aparecida,
que nunca se ouviu dizer
que algum daqueles que têm a vós recorrido,
invocado vosso santíssimo nome
e implorado a vossa singular protecção,
fosse por vós abandonado.
Animados com esta confiança,
a vós recorremos.
Tomamo-vos para sempre por nossa Mãe,
nossa protetora, consolação e guia,
esperança e luz na hora da morte.
Livrai-nos de tudo o que possa ofender-vos
e ao vosso Santíssimo Filho, Jesus.
Preservai-nos de todos os perigos
da alma e do corpo;
dirigi-nos em todos os assuntos espirituais e
temporais.
Livrai-nos da tentação do demónio,
para que, trilhando o caminho da virtude,
possamos um dia ver-vos e amar-vos
na eterna glória, por todos os séculos dos
séculos.
Amém
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Algumas Palavras no segundo turno do Prêmio TOP BLOG 2012
Queridos,
estamos entre os TOP 100 (categoria Educação) do Prêmio TOP BLOG 2012!
Obrigada pelos votos!
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sexta-feira, 5 de outubro de 2012
I Festival de Literatura em Vídeo (Abril Educação e MTV)
Trabalho realizado no ano de 2010 com alunos da Escola SESC de Ensino Médio, o vídeo "Capitolina", da banda Guardavento, foi o grande vencedor do I Festival de Literatura em Vídeo, categoria Ensino Médio (júri Popular e Técnico).
Eu tive o privilégio de ser a professora orientadora do trabalho.
Eu tive o privilégio de ser a professora orientadora do trabalho.
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Salve, São Francisco de Assis!
Oração de São Francisco de Assis
Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvida, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais
consolar, que ser consolado.
Compreender, que ser compreendido,
amar, que ser amado.
Pois, é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo
que se vive para a vida eterna.
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Robert Darnton e a era digital
Historiador
Robert Darnton fala, no programa Roda Viva (TV Cultura), sobre o futuro do livro na era
digital.
Imperdível!
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sexta-feira, 28 de setembro de 2012
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
III Seminário Internacional de Políticas Culturais
Um flagra nos preparativos para o início do segundo dia do III Seminário Internacional de Políticas Culturais promovido pela Fundação Casa de Rui Barbosa.
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terça-feira, 18 de setembro de 2012
domingo, 16 de setembro de 2012
Shaná Tová!
Rosh Hashaná é o ano novo judaico.
***
Desejo
Victor Hugo
Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se
sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito
e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles
escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se
sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito
e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles
escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja, E
acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas Muitas vidas
é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você, Mas que
se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja, E
acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas Muitas vidas
é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você, Mas que
se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
Ainda haja amor para recomeçar.
(Copiado do amigo Daniel Schwartz)
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
LEDEN em Sampa
No último feriado, estive em São Paulo com um grupo de colegas-professores do curso "A imagem na sala de aula", promovido pelo LEDEN do Colégio de Aplicação da UERJ.
Nosso querido professor Esequiel preparou uma viagem inesquecível! Ficamos deslumbrados com os museus da Língua Portuguesa, do Futebol e Catavento, com a Pinacoteca, com o Mercado Municipal, enfim, com toda a diversidade cultural da cidade.
Foi demais!
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quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Evento "Roda de conversa: Polissemias Trans"
A Fundação Casa de Rui Barbosa recebe o escritor João W. Nery para a roda de conversa "Polissemias Trans". O evento, com entrada franca, acontece no dia 13 de setembro, das 14 às 18 horas.
O convidado escreveu Viagem Solitária, livro autobiográfico que conta a trajetória de João, que no final da década de 70 ousou e fez uma cirurgia de mudança de sexo. Nascia ali a história do primeiro transhomem operado no Brasil.
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Bolsas de Iniciação Científica na Fundação Casa de Rui Barbosa
A Fundação Casa de Rui Barbosa abriu processo simplificado para seleção de bolsistas de Iniciação Científica.
Vale conferir!
terça-feira, 21 de agosto de 2012
Palestra com Marcelo Moutinho e Álvaro Costa e Silva
A palestra do escritor Marcelo Moutinho na oficina ministrada pelo jornalista Álvaro Costa e Silva, na Biblioteca Popular Municipal de Botafogo, foi muito bacana. Um bate papo descontraído, muito legal mesmo. Valeu ter estado lá!
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sábado, 18 de agosto de 2012
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
domingo, 12 de agosto de 2012
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
Seminário História da Moda: perspectivas brasileiras na FCRB
Queridos,
estive no último dia 8 na Fundação Casa de Rui Barbosa para assistir ao Seminário de História da Moda e saí de lá completamente encantada.
Fiquei simplesmente maravilhada com o alto nível das pesquisas comunicadas!
estive no último dia 8 na Fundação Casa de Rui Barbosa para assistir ao Seminário de História da Moda e saí de lá completamente encantada.
Fiquei simplesmente maravilhada com o alto nível das pesquisas comunicadas!
Mais uma vez a FCRB arrasou!
A seguir, algumas imagens.
sábado, 4 de agosto de 2012
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
Festzoom: Inscrições prorrogadas
INSCRIÇÕES PRORROGADAS ATÉ 10 DE AGOSTO!!!
Inscreva seu curta, piloto para TV e video de bolso e web, através do site festzoom.com.br
Aproveitem!
Inscreva seu curta, piloto para TV e video de bolso e web, através do site festzoom.com.br
Aproveitem!
domingo, 29 de julho de 2012
Acordar sentidos: o flamenco na poética cabralina
Por Luciana Messeder
O poema de abertura do livro Quaderna
(1956-9), de João Cabral de Melo Neto, “Estudos para uma bailadora andaluza” é
bastante representativo de um conjunto expressivo da poética cabralina: os
poemas dedicados ao universo flamenco. Trata-se de uma temática muito cara ao
autor que, a partir do livro Paisagens
com figuras (1954-5), aparecerá com toda força na obra do escritor
pernambucano.
Assim, no universo intenso e explosivo do flamenco, a poética cabralina
que, geralmente, “associa a música a um tipo de recepção distraída, dolente’”
(Süssekind: 1998, p. 32), concederá aos cantadores e às bailadoras lugares de
destaque. Seja pelo cante, como no
poema “A palo seco” (“cante que não
se enfeita,/ que tanto se lhe dá; é cante
que não canta,/ cante que aí está.”); seja pelo baile, como na letra de “Uma bailadora sevilhana” (“Dançar flamenco é cada vez;/ é um fazer, é um
faz, nunca um fez”), ou como homenagem a grandes cantadores, como é o caso de
“A Antonio Mairena, cantador de
flamenco” (“o cantador no alto do
mastro/ por sua voz levantado,/ só tem enquanto voz tensa,/ na medida em que
sempre cresça”).
Nos poemas citados, podemos vislumbrar que a representação cabralina do
universo flamenco é muito próxima de seu método poético: Cabral vê no flamenco
– essa dança de atitudes sóbrias, contundentes – uma dicção tensa, seca,
explosiva. Uma dicção desflorida que com sua dureza, energia e dinamicidade
deseja acordar sentidos:
“O meu esforço na vida é me fazer acordar. O que eu procuro num remédio
ou num ator que leio não é que faça adormecer minha consciência, como o
romântico, ou essa poesia de cantilena (…) eu não quero ser embalado, quero ser
acordado. De forma que eu procuro aquelas coisas que aumentem minha consciência
da realidade, consciência de mim mesmo e do que eu estou fazendo. Eu procuro
uma poesia que fosse como uma cafeína” (Melo Neto apud Süssekind: 1998, p. 32).
A natureza sonora observável no poema “Estudos para uma bailadora
andaluza” é um indicador de que o poeta ao construí-lo, frisou e imprimiu com
bastante precisão a marcação da dança flamenca. Um traço marcante, comum em
todas as seis partes (estudos) do poema é justamente a abundância de consoantes
oclusivas. Estas, além de sugerirem ruídos ou objetos que os produzem (faísca, pedra, fogo), também
convêm à idéia de força e intensidade (debela,
protesta, cavalgado, taconeando, cavando, robusto, batendo-a, talhada, rompente). Tal como a prática do
flamenco, o poema nos impõe uma dicção dinâmica, explosiva, precisa.
Nesse sentido, a reprodução de batidas, sugerindo a marcação da dança
flamenca, em toda a extensão do poema, faz com que possamos verificar a existência de correspondência entre
significante e significado, ou seja, de “motivação sonora”.
O poema passa a ser um trabalho de engenheiro, de construtor, cabendo ao
poeta construir a poesia a partir de elementos materiais, objetivos. A “lógica
arquitetural” cabralina permite, de acordo com o crítico Marcos Siscar “colocar
em primeiro plano uma certa idéia do signo poético motivado, dando destaque às potencialidades perfomativas de um ‘dizer’
que coincide com um ‘fazer’” (Siscar: 2002, p. 153).
“Estudos para uma bailadora andaluza” potencializa a relação
representação poética/linguagem: o poema é construído por meio de
identificações, aproximações, “estudos”, como aponta o próprio título. Todo o
poema é gerado pela tensão entre a apresentação da dança e a (in)capacidade de
representá-la.
Essa tensão se configura no trabalho de arte de João Cabral de Melo Neto
como uma reflexão acerca das potencialidades da linguagem poética. Nas palavras
do crítico Luiz Costa Lima:
“(…) João Cabral, ao mesmo tempo, chama a atenção para o núcleo a ser
extraído do poema (…) como teoriza sobre sua própria poesia. Pois à atitude
perante a imagem corresponde em Cabral, de modo mais vasto, uma atitude perante
a linguagem. Do mesmo modo que o esforço do autor está em tornar válida a
imagem depois de quebrar seu ilusionismo possível, quanto à linguagem essa intenção
se exprimirá no esforço de fazer com que ela decifre, ao mesmo tempo que se
diga a si própria como linguagem. A linguagem de Cabral é sempre acompanhada de
uma reflexão sobre a linguagem. De uma metalinguagem” (Costa Lima: 1968, p.
330).
Em “Estudos…” a técnica da retificação aparece com toda a sua
intensidade. Podemos observar que o primeiro verso do estudo no 1 contém
uma afirmação imprecisa (“Dir-se-ia, quando aparece”) (v. 1, 1). Nele
encontramos o verbo dizer flexionado
no futuro do pretérito ao lado do se
apassivador. Num só verbo acumulam-se as idéias de imprecisão e indeterminação.
Um pouco mais adiante (v. 6, 1) temos novamente a mesma forma verbal, agora
acompanhada por dois pontos (“dir-se-ia:”). Estes enumeram (vv. 7-20, 1) uma
série de identificações da dança da bailadora com os atributos do fogo.
Observamos, então, que o verbo elocutivo dizer
(nos dois usos mencionados) não afirma um fato. É apenas uma suspeita, uma
suposição. O mesmo se dá, por extensão, com o uso do verbo adivinhar. A forma verbal “adivinha”(v. 14, 1) também é acompanhada
por dois pontos e uma nova enumeração se inicia.
No entanto, a comparação é quebrada na 6a estrofe: o verbo
elocutivo desmentir afirma a
impossibiliade da comparação, afirma o fato. O verso seguinte, “que o fogo não
é capaz”(v. 23, 1), a primeira negativa do poema, quebra a expectativa da
comparação com o fogo. Dessa forma, o poema cotinua a sua enumeração, por meio
de comparações negativas, que traduzem a incapacidade do fogo de partilhar os
mesmos atributos da bailadora.
Dessa maneira, mesmo a platicidade do fogo vislumbrada por seus gestos – folhas, cabelos, língua –;
pelo seu corpo – “carne em agonia” (v.
10, 1); “carne de fogo, só nervos” (v. 11, 1); “carne toda” (v. 12, 1), “carne
viva” (v. 12, 1); e pelo seu caráter
– “gosto de extremos” (v. 15, 1); “natureza faminta” (v. 12, 1); “gosto de
chegar ao fim” (v. 30, 1), “atingir a própria cinza” (v. 20, 1), não é capaz de
configurar a dança da bailadora. Esta, ao contrário do fogo, é capaz de
“arrancar-se de si mesm[a]” (v. 25, 1), de “acender-se estando fria”(v. 30, 1),
de “incendiar-se com nada” (v. 31, 1), de “incendiar-se sozinha” (v. 32, 1).
Observando os verbos arrancar,
acender, incendiar, podemos afirmar que a idéia de tensão é colocada em
primeiro plano. O tom explosivo, inflamado dos verbos citados, sugere força e
intensidade. A gradação acender/incendiar (contrastando com “fria”, “nada” e
“sozinha”) tem por finalidade, justamente, ressaltar esse caráter
autosuficiente da bailadora. Ressalte-se ainda que o realce dessa autosuficiência
ainda é acentuado pelo uso reflexivo de tais verbos.
O estudo no 2 também privilegia a tematização da tensão. Nele
a ocorrência das palavras “nervo”, “tensão”, “energia” intensifica as relações
de força entre a bailadora e a dança (ambas égua e cavaleira), derivando destas
o campo semântico: carregada, carrega, encrespa, montado, monta, debela, dominado, ressente, mandado, obedecendo, protesta, rebela, cavalga, cavalgado, inerva. Com o uso dos enjambements
o poeta alcança uma continuidade ininterrupta, dinâmica: “há uma tal
conformidade/entre o que é animal e é ela,// entre a parte que domina/ e a
parte que se rebela,/ entre o que nela cavalga/ e o que é cavalgado nela”(vv.
19-24, 2).
No estudo no 3, a idéia de movimento continua intensa. Nele,
o corpo que dança continua em primeiro plano. E sua dança nunca deixa de ser
objetiva. Dessa maneira, na telegrafia do taconeo
observa-se a atenção e a energia de quem pronuncia ativamente as respostas por
meio das batidas de sua dicção desflorida. A fim de representar essa telegrafia
o poeta serve-se de palavras que a configurem (mensagem, linha, linguagem, código, morse, linear, ponto, traço, concisa, preto e branco).
No estudo no 4 assistimos a uma série de comparações,
respectivamente camponês, árvore, terra. Dentro desse complexo, a figura da bailadora é afirmada e
sua natureza revelada por meio do contraste com a imagem da bailarina. Esta
última representada como “ave assexuada e mofina” (vv. 13-4, 4), enquanto a
bailadora, “uma árvore, firme na terra, nativa” (vv.17-8, 4). Aos movimentos
aéreos da bailarina se contrapõem os da bailadora, que com seu “tornozelo
robusto” (v. 11, 4) não pisa a terra, mas se planta nela.
O estudo no 5 sugere as posições inicial e final da dança
flamenca. Ambas têm a bailadora no centro no palco. O centrar-se da bailadora é
o início e o final da dança: como estátua, o livro de sua dança – “livros de
iguais coberta e contra-coberta” (vv.3-4, 5) – encerra como capa, “capas
iguais” (v. 30, 5) “com a figura desafiante”(v. 31, 5) de “estátuas acesas” (v.
32, 5).
Ao longo do estudo das primeiras cinco partes do poema, foi possível observarmos
a comparação da bailadora com a imagem do fogo – “Porém a imagem do fogo/ é num
ponto desmentida” (vv. 21-2, 1) –; ficamos sabendo que “é impossível
traçar/nenhuma linha fronteira”(vv. 29-30, 2); entre o que é égua e o que é
cavaleira em sua dança; que a dicção “tão morse e tão desflorida” (v. 28, 3)
das pernas da bailadora deve ser telegrafia; que a bailadora “se orgulha de ser
terra/ e dela se reafirma,/batendo-a enquanto dança/para vencer quem duvida”
(vv. 29-32, 4) e ainda que sua dança parece desafiar “a ver quem é que a
modela” (v. 20, 5) e “a quem está na assistência” (v. 26, 5).
Mas a imagem que unifica todos os andamentos do poema, só nos é
apresentada no último estudo.
As retificações acumuladas levam à compreensão mais justa e encaminham o
leitor para a verificação de um recurso que, embora presente em toda a
composição, só será explicitado por João Cabral de Melo Neto no estudo no
6.
Nele, estudo-síntese, podemos assistir à dança da bailadora como se
assiste ao “processo da espiga”: “Parece que sua dança,/ ao ser dançada, à
medida/ que avança, a vai despojando/ da folhagem que a vestia” (vv. 5-8, 6), privando-a
também de uma outra flora “a que seus braços dão vida e agonia”(v. 14, 6). Sua
dança ao ser executada, despoja-se, priva-se de adornos.
Dessa maneira, “embora tudo/ aquilo que ela leva em cima,/ embora, de
fato, sempre/ continue nela a vesti-la” (vv. 17-20, 6), ainda que terminada a dança, sua roupa
persista, “a imagem que a memória/ conservará em sua vista/ é a espiga, nua e
espigada,/ rompente e esbelta, em espiga” (vv. 29-32, 6). Esta é a imagem final
da bailadora e de sua dança. É a imagem que a memória conservará: uma imagem
que se basta. A espiga é referência para ela mesma: seus qualificativos são
auto-referenciais (nua, espigada, rompente, esbelta).
Imagem dura, seca, desfolhada, perfurante, a espiga é capaz de simbolizar
formalmente e tematicamente a obsessão da poética cabralina: a construção de
uma poesia a partir de elementos concretos, objetivos.
Cabral objetiva a linguagem para torná-la amplificadora, expressiva. A
imagem final da bailadora – “a espiga, nua e espigada,/ rompente e esbelta” (vv.
31-2, 6) –, bem como o processo que possibilita esse “descascamento”, são
muitos caros à representação poética cabralina: a poesia de João Cabral de Melo
Neto é a busca da síntese por meio da palavra despida.
Referências Bibliográficas
COSTA
LIMA, Luiz. Lira e Antilira. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. 2a ed. revista: Rio de
Janeiro, Topbooks, 1995.
MELO
NETO, João Cabral. Obra Completa. Rio
de Janeiro: Nova Aguilar, 1999.
SISCAR,
Marcos. “A máquina de João Cabral”. In: Inimigo
Rumor. Rio de Janeiro: Sete Letras, 2002, no 13.
SÜSSEKIND,
Flora. “Com passo e prosa: voz, figura e movimento na poesia de João Cabral de
Melo Neto”. In: A voz e a série. Rio
de Janeiro: Sete Letras; Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.
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segunda-feira, 23 de julho de 2012
terça-feira, 17 de julho de 2012
Aniversário de 4 anos!
Hoje o blog Algumas Palavras completa 4 anos!
Obrigada a todos!
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sexta-feira, 13 de julho de 2012
Cornélio Penna, um escritor dissonante
Por Luciana Messeder
RESUMO O escritor Cornélio Penna,
apesar de figurar em Histórias da Literatura Brasileira, continua sendo um
desconhecido. Sem antecedentes, filiações reconhecidas em nossa literatura e
com uma biografia marcada pela falta de eventos e pelo isolamento intelectual,
o autor de A menina morta figura à margem do sistema literário
brasileiro. O presente trabalho tem como objetivo apresentar o escritor
Cornélio Penna e os horizontes de expectativa de sua época. Dessa forma,
mostraremos as relações entre Cornélio Penna e sua época, passando pelo exame
do profundo vínculo entre o escritor e o passado imperial de sua família e, por
último, verificaremos a importância que essa espécie de “tempo perdido”
exerceu sobre sua produção ficcional.
Palavras-chave: Cornélio Penna, Biografia, História da Literatura
Brasileira, Ficção.
ABSTRACT The
writer Cornélio Penna, in spite of being included in various Histories of
Brazilian Literature, remains a stranger. Without predecessors, recognized
affiliations in our literature and a biography marked by the lack of great
events and intellectual isolation, the author of A menina morta [The dead girl] is an outsider to the Brazilian
literary system. This work aims at presenting the writer Cornélio Penna and the
horizons of expectations of his time. Therefore, we will show the relations
between Cornélio Penna and his time, passing by the review of the deep bond
between the author and the imperial past of his family, and reaching, at last,
the significance that this type of “lost time” has exerted on his fictional
production.
Key Words: Cornélio Penna, Biography, History
of Brazilian Literature, Fiction.
Cornélio Penna é, reconhecidamente, um dos personagens mais ariscos da literatura brasileira e, como observou um estudioso do escritor “À primeira vista, a vida de Penna é pouco ou nada ‘biografável’” (Bessa, 2000, p. 88). Nesse sentido, mesmo a simples tarefa de escrever algumas linhas sobre sua trajetória, já pode ser encarada como um empreendimento desafiador.
No entanto, a ausência desse esforço comprometeria qualquer tentativa de aproximação com a obra corneliana, pois como entender a dissonância (de autor e obra) sem a compreensão do horizonte de expectativas de seu tempo?
Assim, é preciso deixar claro que sem a pretensão de escrever o “verbete” Cornélio Penna, faremos a partir de agora uma espécie de viagem biográfica, uma vez que alguns episódios da vida do autor serão de suma importância para a melhor compreensão de sua obra.
Dessa maneira, fazendo uso de recortes de jornais da época, artigos e ensaios sobre o autor, verificaremos: (a) sobre o que irá coincidir o crescente isolamento de Cornélio Penna e (b) no que resultará a espécie de viagem melancólica empreendida pelo escritor.
A perversão do presente
Cornélio Penna era um jovem recém-formado em Direito quando
se mudou no ano de 1919 para o Rio de Janeiro. Começou sua vida profissional
trabalhando como jornalista, redator e ilustrador em periódicos cariocas, tais
como A Nação, O Combate, O Jornal e O Brasil. Nessa
época, passou a dedicar-se intensamente à carreira de pintor, realizando sua
primeira exposição no ano de 1923 (1º Salão da Primavera, Rio de Janeiro).
Augusto Frederico Schmidt o conheceu ainda nesses primeiros
anos na nova cidade, quando Cornélio trabalhava na redação de O Jornal e
era, segundo o poeta, um “recém-formado, indeciso sobre o seu destino, bacharel
e desenhista-pintor” (Schmidt, 1997, p. 206). Por intermédio das memórias de
Schmidt, vemos o jovem Cornélio levar uma vida social e intelectual ativa, pois
era visto com freqüência pelos amigos. Nesse tempo, ambos eram freqüentadores
de um círculo de artistas e boêmios que se reunia no Café Gaúcho,
estabelecimento localizado na rua Rodrigo Silva, que ficava ao lado da redação
em que Cornélio trabalhava. Mesmo assim, como nos atesta Schmidt, os
qualificativos “torturado, estranho, artista raro, misterioso, sombrio”
(Schmidt, 1997, p. 209) já faziam parte do rol de expressões que desde cedo
acompanhariam o artista.
Após tornar-se funcionário público, em 1926, Cornélio passou
a dividir seu tempo entre as artes plásticas e o trabalho como 3º Oficial do
Ministério da Justiça. No ano seguinte, mudou-se para a casa de sua tia
materna, Zeferina Hermeto Carneiro Leão, na Praia de Botafogo, onde permaneceu
até o ano de 1941. Viúva de Dr. Henrique Carneiro Leão, o Barão de Paraná,
Zeferina foi uma figura bastante querida pelo escritor (Cornélio a chamava de
vice-mãe) e uma grande incentivadora da carreira artística do sobrinho.
Em 1929, foi aceito por unanimidade como membro da Sociedade
Brasileira de Belas-Artes e, em junho do mesmo ano, escreveu sua “Declaração de
insolvência” que, publicada no jornal A Ordem, Rio de Janeiro,
comunicava o término de sua carreira de pintor. Durante entrevista a Ledo Ivo,
Cornélio elucidava o motivo de tal abandono:
Quem visse
um quadro devia vivê-lo para sempre, e sua memória não seria estática, visual,
mas sim dinâmica, criadora, projetando-se no futuro com a própria vida daquele
que o trazia em seu espírito, e não unicamente nos olhos. Convenci-me de que
não seria possível conseguir isso, e eu mesmo achei que tudo que fizera não
passava de literatura pintada, uma das coisas mais horríveis que se pode
imaginar (Ivo, 1958a, p. LXI).
Com a constatação de que era impossível alcançar por meio da
pintura a expressão artística desejada, Cornélio Penna, aos 33 anos, dava uma
guinada em sua carreira. Nascia, então, o romancista.
Antes, porém, de tratarmos da motivação inicial para a
feitura de seus romances, torna-se necessário o destaque de alguns episódios
biográficos. Acreditamos que tais acontecimentos nos oferecerão importantes
pistas para a compreensão de autor e obra.
Um dado de suma importância na trajetória de Cornélio Penna é
o seu progressivo desligamento do presente, uma espécie de exílio voluntário.
Por meio de textos assinados por contemporâneos do autor, torna-se bastante
nítido que a carreira de escritor foi acompanhada por um progressivo
afastamento da sociedade. Se na década de 1920, segundo o testemunho de
Schmidt, Cornélio freqüentava cafés e participava de discussões acaloradas, uma
década depois, esse tipo de exposição já se mostrava inconcebível. A partir da
década de 1930, teve início um crescente isolamento que foi prontamente notado
pelos articulistas da época:
[Cornélio
Penna] tem se conservado numa discreta atitude de afastamento dos círculos das
bellas artes, aparecendo só de raro em raro nas revistas e jornais, ele que, há
anos passados, enchia de uma beleza tão alta e amarga as páginas dos periódicos
mais em evidência no país (Beira-mar, 1931).
Cornélio
Pena, o desenhista de tão forte personalidade, de temperamento esquisito e
complicado [...] nunca mais surgiu nos meios literários, não vai às livrarias
nas horas de reunião dos escritores, não aparece sequer, no Salão de Bellas
Artes e esqueceu completamente o caminho das sociedades de arte e de letras (Beira-mar,
1934).
Nessa trajetória, tomamos o ano de 1935 como um marco na
biografia do escritor. Nele, dois importantes acontecimentos coincidem: a
comunhão no mosteiro de São Bento, marcando a volta à prática católica, e a
publicação de seu primeiro romance (Fronteira).
Sobre os reflexos do primeiro acontecimento, contamos com o
testemunho de Hamilton Nogueira:
Há pouco
mais de vinte anos converteu-se Cornélio Pena ao catolicismo. Foi uma conversão
integral. Uma opção definitiva. Ao epigramista temível de outros tempos,
seguiu-se um homem novo, tolerante para com os homens, mas de uma intolerância
absoluta quando os princípios cristãos estavam em discussão (Nogueira, 1958).
Ao tratar da conversão do escritor ao catolicismo, sua
declaração reforçava a mudança radical acarretada pelo episódio religioso: o
novo homem era também possuidor de um catolicismo ferrenho.
Quanto ao segundo acontecimento, sua estréia nas letras,
podemos dizer que Fronteira causou um relativo impacto na crítica de seu
tempo. As palavras de Ruth Pacheco – “um livro fora do comum [...] fora do
comum de nossa literatura toda ocupada com problemas psicológicos e sociais”
(Pacheco, 1936, p. 164) – parecem ser compartilhadas pelos articulistas da
época:
A reação da
crítica diante do romance foi excelente; nomes como Tristão de Athayde, Otávio
de Faria e Mário de Andrade falaram com entusiasmo sobre o estranho livro, que
vinha fazer uma curva completamente imprevista na linha tradicional do romance
brasileiro (Perez, 1955).
A curva imprevista do romance de Cornélio Penna seria dada
pela introdução do elemento fantástico que, na contramão do experimentalismo
lingüístico modernista, da ênfase realista do romance social nordestino e da
linguagem introspectiva e simbolista do romance católico, foi o verdadeiro
responsável pelo estranhamento da crítica. Os romances seguintes, como afirma o
crítico Fausto Cunha, serão motivados pela “consciência do autor de não ter
dito ainda o que desejava dizer” e pela “ânsia de surpreender a nota exata”
(Cunha, 1949a). O perfeccionismo e a maturidade do escritor seriam, então, os
responsáveis pela depuração do elemento fantástico que, em A menina morta,
já se encontrará reduzido à atmosfera fantasmal configurada nas páginas do
romance.
Mas, prossigamos em nosso trajeto biográfico. No ano seguinte
à publicação de Fronteira, a tia baronesa do escritor falece deixando
para o sobrinho uma herança que lhe permitiu, no ano de 1941, pedir demissão do
emprego no Ministério da Justiça e seguir para São Paulo, com a finalidade de
cuidar da mãe doente. Lá permaneceu até a morte de D. Francisca, em 1943, e, no
mesmo ano, então com 47 anos, conheceu e casou-se com Maria Odília de Queiroz
Matoso.
A partir do momento que não mais precisava do emprego,
retirou-se da vida pública e passou a dedicar-se integralmente ao ofício de
escritor. Acreditamos ser neste período o ápice de seu isolamento. Nesta época,
o autor abdicou, inclusive, do contato com amigos de longa data, como nos
confirma o testemunho de Augusto F. Schmidt:
Desde que
Penna se libertou do Ministério da Justiça [...] e pôde, em virtude de algumas
heranças, realizar o seu ideal de não fazer nada, desde que começaram os seus
anos de silêncio e, mesmo, um pouco antes, deixei de vê-lo com freqüência
(Schmidt, 1997, p. 210).
Colocava-se,
cada vez mais, à parte do burburinho intelectual e, quando perguntado por Ledo
Ivo por que não freqüentava os meios literários, o autor de pronto respondia:
“Porque não sou literato. Não se pode imaginar o verdadeiro horror que tenho
[...] de tomar atitudes literárias, de viver literariamente” (Ivo, 1958a, p.
LXVI).
O teor desse tipo de declaração numa época em que se
cultivavam os encontros nos cafés e nas livrarias – e aqui vale lembrar da
importância exercida por esses espaços que eram tidos como verdadeiros
catalisadores intelectuais de uma geração que se queria engajada (cf. Hallewell,
2005) – só fazia aumentar a excentricidade do escritor perante seus pares.
Para seus contemporâneos, a personalidade do escritor era
visivelmente fora dos padrões considerados normais: era tido como um tipo
misterioso e esquisitão. “O que me completou a compreensão da obra foi o homem.
Conhecia-lhe a legenda – era um esquisitão, que vivia fechado em sua casa –
verdadeiro museu sem ter contato com ninguém” (Perez, 1958).
Mesmo nos círculos mais íntimos, a aura enigmática se
mantinha. Augusto F. Schmidt, ao descrevê-lo, reforçava o descompasso entre o
modo de vida adotado por Cornélio Penna e sua própria época: “Jamais tive a
impressão de que ele fosse um contemporâneo, um homem de minha época, um homem
como os outros” (Schmidt, 1997, p. 206).
Assim, afastado da política, dos amigos e dos meios
literários, o escritor passou a levar uma vida ascética. Isolado de tudo e de
todos, não gostava de sair de casa, evitava falar de seus livros e detestava a
vida barulhenta das cidades. Seu dia-a-dia se resumia, então, à escrita de seus
romances, ao conserto e reparação de coisas antigas, às longas e silenciosas
caminhadas com a esposa e as idas à missa.
Em entrevista realizada no ano de 1951, o escritor comentou
sobre seu retiro espontâneo “da vida quotidiana” e “do convívio dos que
escrevem e dos que lêem” (Letras e Artes, 1951). O autor de A menina
morta, na mesma entrevista, contou que desejava, em sua casa, manter-se
distante do que chamava “eco do mundo”:
Em uma
época de primarismo político, de confusão concentracionária, de pretendida
ciência em busca de bombas mortíferas, quando todos ameaçam e ninguém executa,
tenho vontade de viver longe, em um lugar onde não chegue o eco do mundo
(Idem).
O retraimento,
provocado pelo desagrado com a realidade e com o seu tempo, fez com que o
escritor se entregasse vorazmente à nostalgia do tempo por ele cultuado: o
passado familiar [1].
Encontrava em
sua casa o que denominava “refúgio” e, nesse ambiente, cercado de móveis,
tapetes e relíquias familiares, o apaixonado colecionador de antigüidades
escrevia seus romances [2].
Assim, o escritor trocou o “eco do mundo” pelos ecos do
passado: “Em casa há alguns móveis antigos e às vezes ouço as histórias que
eles me contam. Uma poltrona, um velho quadro, uma lembrança qualquer do passado
me faz companhia e me oferece temas para meus livros” (Rey, 1955); “[...] eu
via neles [retratos e móveis] os gestos e os sentimentos de seus antigos
possuidores, que conheci já velhos e alguns apenas revivendo na lembrança
daquelas que representavam para mim todo um mundo desaparecido” (Rego,
1949). São esses objetos de
memória que evocam do passado familiar os gestos, os gostos, as imagens e as
histórias apreendidas e transmitidas no decorrer de tantas vidas.
De suas tias e avós, herdara as histórias da família nobre e
abastada do tempo do Império: um passado, não muito distante, repleto de
glórias, riquezas e tragédias. Das pesadas caixas de música, melodias suaves
reanimavam as vozes de sua infância que lhe contavam as histórias de índios
selvagens, escravos rebelados, superstições de pretas velhas, palácios
luxuosos, países distantes e casamentos de contos de fada. Histórias
entranhadas no jacarandá antigo, gravadas nos brasões dos antepassados: em cada
peça de família, fragmentos de vidas passadas e ruínas de um mundo
desaparecido.
As velhas fotografias de família faziam brotar imagens de
palmeiras imperiais, que cercavam a casa-grande e sinalizavam ao viajante o
fausto e a grandeza da fazenda de café. O luxo sombrio e austero dos moradores
da mansão era relembrado pelos móveis que rodeavam o autor.
Na atmosfera centenária da casa de Laranjeiras, os objetos de
culto ao passado familiar engendravam a matéria-prima de seus romances. Dentre
eles, via-se o retrato a óleo da menina que parecia dormir.
A pintura do “anjinho” de vestido branco e coroa de rosas
representava uma das tias maternas de Cornélio. Pintado por um artista francês
que se hospedara na fazenda do Cortiço, propriedade da família do escritor em
Sapucaia, interior do Estado do Rio de Janeiro, o quadro retratava a menina em
seu leito de morte e era uma das paixões do escritor. Para ele, foi escrito o
romance A menina morta:
[...]
Quando vivia solitário em minha casa, ela [a menina morta] me entristecia e
povoava meus dias com sua presença patética. Tinha o hábito de dizer que ela
‘vivia em mim’ e que um dia escreveria o seu romance [...] Sua presença
tornou-se quase real ao meu lado, e ouvi que murmurava muitas coisas em meus
sonhos (Penna, 1955).
A escrita para Cornélio tornava-se, então, parte de um
nostálgico empreendimento: através dela o escritor realizava uma viagem pela
memória da família semelhante à “viagem através da carne” de que nos fala o
poema “Retrato de família”, de Carlos Drummond de Andrade:
os
parentes mortos e vivos.
Já
não distingo os que se foram
dos
que restaram. Percebo apenas
a
estranha idéia de família
viajando
através da carne (Andrade, 1963, p. 59).
Pela via da memória, Cornélio Penna resgatava o passado
familiar que, como o poema, encontrava-se na tênue fronteira onde “memória e
presente mutuamente se enlaçam, se alimentam” (Costa Lima, 1968, pp. 221-22),
fronteira que o escritor passava a habitar e de onde retirava os elementos para
sua ficção. Nela, tempo, espaço e circunstâncias eram contaminados pela marca da
perda.
Sob o
signo da melancolia
Se pensarmos em uma lógica capaz de organizar a história de
vida de Cornélio Penna, encontraremos a da melancolia. É pela experiência da
perda que os principais acontecimentos da vida do escritor se organizam: perdas
familiares, perda de ambições, perda de saúde.
É também pela via
melancólica que Penna se identifica com o mundo que o cerca: “O meu dia, todos
os meus dias, assim como toda minha vida agora, resume-se a uma só palavra:
ocaso” (Penna, s/da).
Tradução do instante
suspenso, o crepúsculo, imagem-síntese evocada pelo autor, é um signo
melancólico por excelência. É ele que simboliza a “hora da saudade e da
melancolia” (Chevallier, 1998, p. 300). Representação do espaço fronteiriço,
onde as divisas da noite e do dia se misturam, o crepúsculo é o instante no
qual passado e presente deixam de ser distinguidos. Habitado pelo escritor, ele
é o local dos fantasmas familiares. Uma espécie de refúgio em que Cornélio
podia contemplar a beleza nostálgica de um passado idealizado: um tempo
anterior às perdas que marcariam para sempre a trajetória de sua família.
Nascido a 20 de fevereiro
de 1896, em Petrópolis, Cornélio de Oliveira Penna foi o quinto filho do casal
Manuel Camilo de Oliveira Penna, médico, e D. Francisca de Paula Marcondes de
Oliveira Penna. Tinha um ano de idade quando seu pai se transferiu, com toda a
família, para Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais. Dr. Manuel Camilo, filho do
respeitado Coronel João Camilo de Oliveira e de Maria Rosa de Oliveira Pena,
irmã do presidente Afonso Pena, nasceu na imponente Fazenda do Girau,
propriedade que mais tarde se tornaria sede da mineração da Itabira Iron. Era o
filho ilustre que retornava à pequena cidade mineradora com a finalidade de lá
se estabelecer e montar sua clínica.
Após um ano na nova
cidade, uma tragédia familiar se desencadeou: a morte súbita de seu pai, logo
seguida por mais duas importantes perdas (avó e tia maternas). Órfão aos dois
anos de idade, mudou-se com a família para Pindamonhangaba, onde permaneceram
por um curtíssimo tempo, pois, ainda no ano de 1901, a família seguiu para
Campinas, cidade em que o escritor passou sua infância e adolescência, na qual
também ocorreu outro episódio dramático: a perda da visão direita enquanto
brincava com um canhão. Referindo-se aos anos conturbados que marcaram sua
infância, o escritor rememorou a antiga e triste história materna:
Tendo
casado em Paris, seguira para Itabira do Mato Dentro, e, depois de oito anos de
felicidade, meu pai morrera subitamente. Desorientada, tentou refugiar-se junto
de minha avó, que ficara em Honório Bicalho, onde estava a mineração de ouro de
minha família materna, e, na estação, soube que ela falecera na véspera. Quis
então ir para junto da irmã mais velha e sua madrinha, em São Paulo, mas esta
também morreu no mesmo mês... e assim se fechara
sobre ela uma lousa inviolável de renúncia e de tristeza, que nunca podemos
vencer, durante tantos anos de sobrevivência (Condé, 1953, apud Adonias
Filho, 1958, p. XXVI).
A mãe, D. Francisca, é recordada pelo escritor como uma figura frágil, de
olhos distantes e passos silenciosos. Cornélio relembrava também o espesso luto
que parecia envolver toda sua família numa espécie de sono profundo. Sobre a
infância o autor escrevia: “[...] minha infância, luta constante contra a
melancolia, a inquietação sem causa, o sentimento de culpa que eu tinha da
desgraça que pesaria sempre sobre o nosso lar, sem que eu o pudesse
conjurar...” (Penna, s/db).
Em suas entrevistas, o escritor afirmava ter sido uma criança triste e
solitária que, desde cedo, encontrou refúgio na leitura de folhetins e
romances. Segundo a reportagem de Renard Perez Cornélio “lia tudo que lhe
chegava às mãos, desde o ‘tico-tico’ a Perez Escrich e Alexandre Dumas” (Perez,
1955). [3]
O futuro escritor também adorava escutar as velhas histórias familiares
contadas pela mãe, histórias que o transportavam para um mundo desaparecido e
que lhe faziam companhia nos momentos de solidão:
[...] desde que me conheço, ouvia as histórias de Itabira, de
Pindamonhangaba e das fazendas de meus avós e tios [...] eu guardava tudo com
avidez, sem demonstrar como era funda a emoção que me provocavam aqueles
episódios sem uma ligação aparente entre eles, que eu recolhia e depois ligava
com um fio inventado por mim (Adonias Filho, 1958, p. XXXIX).
As lembranças de Itabira sempre exerceram uma forte influência na
trajetória de Cornélio Penna. Palco do drama familiar, a velha cidade
mineradora, também foi objeto de uma apaixonada admiração. Nas palavras de Carlos
Drummond de Andrade, o autor de A menina morta “nasceu, viveu e morreu
interiormente” (Andrade, 1958) em Itabira.
Em entrevista a Ledo Ivo, Cornélio Penna falava que a motivação
irresistível que o impulsionou para a feitura de Fronteira, seu début
nas letras, partiu do desejo de ver Itabira retratada em um romance:
[...]
a vida da cidade, o espírito belo e sombrio de seus habitantes, as histórias de
[...] invencível coragem no drama que tudo lá representa, tinham ficado
gravadas em meu cérebro e em meu coração de tal forma, toda minha vida, que só
pude me libertar de sua obsessão escrevendo. Pedi a muitos escritores que o
fizessem [...], mas não consegui interessar a nenhum deles, e assim foi que
escrevi Fronteira, que consegui publicar em 1935, e que representou para
mim apenas um desabafo, uma confidência, ou melhor, uma confissão pública, a
compreensão de Itabira (Ivo, 1958a, p. LXII).
No trecho que selecionamos,
Penna afirmava que a escrita do romance foi provocada por um desejo íntimo, um desabafo,
uma confidência, uma confissão pública de alguém que desejava ver
retratada a matéria que o obsedava. Pelo desejo de contar a história da cidade
estagnada, feita de ruínas e silêncios, de cuja atmosfera brotavam fantasmas,
recordações e história familiares, o autor encontrava a motivação inicial para
a escrita de seus romances.
Sua matéria ficcional,
portanto, emanava de um tempo familiar progressivamente habitado, de um passado
insistentemente rememorado que ganhava a forma da pequena cidade mineradora:
“Cornélio convertera Itabira em matéria mítica. Ela então se tornava o véu, que
não encontrava na tradição literária, indispensável para elaborar a realidade
de que não se desligava: a realidade do passado de suas tias e avós” (Costa
Lima, 2005, p. 20).
O mergulho nas memórias ancestrais, com o passar dos anos, tornava-se
mais profundo e fazia com que o autor, como já foi observado pelo crítico Luiz
Costa Lima, recuasse cada vez mais no tempo retratado por sua ficção.
Segundo o crítico, não só vemos o tempo histórico ser invertido, isto é,
retroceder gradualmente na cronologia de seus quatro romances, como também é
possível observarmos mudanças no que diz respeito à localização espacial de
suas narrativas, ou seja, o lugar onde a ação se desenrolará. Sobre esta última
característica da prosa corneliana, o crítico chama atenção para o fato de o
autor realçar progressivamente a fazenda como núcleo ficcional:
[...]
a cidadezinha [...] tende a diminuir de importância, até se converter, em A
menina morta, em mero lugar de passagem, Porto Novo, ao passo que a
fazenda, de ingresso mais tardio, tornar-se-á o ponto central com o Grotão.
Esta ordem diversa de precedência indica a direção da matéria ficcional
corneliana: direção ditada pela memória na (dolorosa) procura de chegar à
origem da razão (esquiva) da própria procura (Costa Lima, 2005, pp. 73-74).
Sabemos que as histórias
ouvidas na infância ofereciam a Cornélio Penna um material riquíssimo a ser
explorado ficcionalmente. Assim, nessa viagem ditada pela memória, a ficção
corneliana avançava até o passado distante de suas avós, de onde retirava os
elementos propulsores de sua ficção. Se em A menina morta acompanhamos
uma espécie de trabalho de antiquário, um trabalho paciente que reconstituía
com perfeição o cotidiano de uma fazenda de café escravocrata às margens do
Vale do Paraíba em seus tempos de prosperidade, também somos apresentados à
economia do texto corneliano e sua “incômoda riqueza”. O tempo de opulência –
sugerido nas páginas de A menina morta pelo desfile de móveis
aristocráticos, objetos de arte, louças gravadas com os brasões da família e
produtos importados da Europa – convive com o mal que atinge toda a comunidade
do Grotão.
Durante a narrativa,
acompanhamos os detalhes da vida cotidiana, as riquezas advindas do trabalho
escravo e a vida em ponto-morto das personagens da casa-grande, dados que nos
revelam o dia-a-dia em uma comunidade onde a tensão é permanente.
Assim, em A menina
morta somos apresentados a um universo apavorante. A viagem melancólica é
abortada: ao contrário de resultar em uma espécie de idade do ouro familiar, o
relato ficcional se torna sombrio e angustiante. O mergulho melancólico de
Cornélio Penna, como afirma o crítico Luiz Costa Lima, em vez de justificar a
melancolia, isto é, a mostrar fundada num passado louvável do ponto de vista
biográfico, a mostra assentada em um tempo de horror:
De alguém que vivia entre relíquias [...] e lembranças,
podia-se esperar que fosse um emérito melancólico, que ressaltasse as glórias
imperiais da família abastada. Alguém, em suma, que, vivendo dos restos da
passada fortuna expusesse as raízes de uma vida de luxo e riqueza. Em vez
disso, os fantasmas da memória se solidificam em um mundo monstruoso, em que a
ordem da próspera fazenda mal encobre o terror que circula pelas frestas,
quartos e vidraças (Costa Lima, 2005, p. 15).
Sobre a aparente
prosperidade do Grotão esconde-se um tempo de horror fundado na
irracionalidade, a escravidão, e é exatamente nesse ponto que vemos a originalidade
do escritor surpreender: sua ficção impele o leitor de A menina morta
para um tempo de opulência, que, na verdade, se revela como um mundo de
pesadelo.
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REY, Marcos. “A vida não tem enredo”. In: O Tempo. São Paulo, 20
de fevereiro de 1955.
SCHMIDT, Augusto Frederico: As Florestas. Páginas de memórias. 2ª
ed. Rio de janeiro: Topbooks, 1997.
NOTAS
[1] Chamamos atenção neste momento para
aquilo que o crítico Luiz Costa Lima denomina inconsciente textual, isto é, os
indicadores que existem no texto ficcional que não chegam à consciência do
autor nem fazem parte do horizonte de expectativas de seu tempo (Costa Lima,
2003, pp. 323-325). No caso de Cornélio Penna, o refúgio no passado de tias e
avós, sugerindo a vontade de o autor se desligar do tempo presente, não
interromperá o diálogo com as questões de sua época. Pelo contrário, em A
menina morta, por meio da tematização da violência, do interdito e da
opressão, encontraremos uma potente reflexão ficcional acerca de questões
atualíssimas para seu tempo.
[2] São várias as referências
encontradas acerca da residência do autor. Algumas ressaltam a estranha
atmosfera que fazia da moradia de Cornélio Penna uma mistura de convento e
museu: “A casa [...] lembrava um pequeno convento [...] Era uma atmosfera
tranqüila, sonolenta, indiferente ao que se passava lá fora” (Ivo, 1958b); os
objetos “davam à sala de entrada um ar bolorento de museu [e criavam] uma
atmosfera de romance inglês setecentista” (César, 1974); “Quando cheguei à sua
casa [...] senti que penetrava na própria atmosfera de seus romances” (Perez,
1958). Outras chamam a atenção para o fascínio do autor pelos objetos
familiares e suas histórias “[Cornélio] vive cercado de recordações naquela sua
casa de Laranjeiras onde, por assim dizer, o tempo parou, tamanha é a força da
‘voz dos outros tempos’ que ecoa em suas salas” (Rego, 1949); “Tudo o que
existe nas salas, quartos e corredores de sua residência tem uma história, que
nasce sempre de sua infância, da lembrança dos parentes mortos, alguns
enterrados em igrejas” (Ivo, 1945).
[3] Dentre
seus escritores preferidos na adolescência, Camilo Castelo Branco merece um
destaque especial, pois o escritor afirmava ter lido várias vezes as Novelas
do Minho. Ao lembrar das leituras vorazes desses anos, Cornélio costumava
contar com muita graça o impacto que lhe causara a leitura de Machado de Assis:
“Um dia li Quincas Borba e fiquei trêmulo, comovidíssimo, certo de que
era louco também” (Ivo, 1958a, p. LVII).
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