quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Arcadismo (Revisão)

"Pauline as Daphne Fleeing from Apolloc" (1810) LEFÈVRE, Robert
Private collection
"The Bather" (1808) INGRES, Jean-Auguste-Dominique
Musée du Louvre, Paris

"Landscape with Figures Crossing a River" (s.d.) BIDAULD, Jean-Joseph-Xavier
Private collection

"Landscape with a Fortress and a Beggar" (s. d) BERTIN, Jean-Victor
Private collection
Iluminismo: conjunto das tendências ideológicas, filosóficas, científicas que nutriram o século XVIII; representava as idéias embasadas pelo espírito científico, experimental, enciclopédico e racionalista. Época movida por uma concepção otimista do mundo e pela crença inabalável no progresso humano, o iluminismo foi definido a partir da metáfora das Luzes: “luzes” que iluminam, que ilustram uma cultura nublada pelas “trevas” e pela mentalidade “obscurantista” barroca (que segundo os iluministas foi responsável pela interrupção das conquistas e dos avanços científicos do Renascimento).
Assim, no início do século XVIII ocorre a decadência do pensamento barroco, para a qual colaboraram vários fatores:
  • o exagero da expressão barroca havia cansado o público, perdendo terreno para o subjetivismo burguês;
  • o fortalecimento da burguesia que, atingindo a hegemonia econômica, lutava também pelo poder político (Declaração de Independência das Treze Colônias americanas 1776; Revolução Francesa 1789);
  • e o aparecimento dos filósofos iluministas: novo quadro sociopolítico-cultural, que necessitava de outras fórmulas de expressão.
Em 1748, Montesquieu publica O espírito das leis, obra na qual propõe a divisão do governo em três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Voltaire, como Montesquieu, relacionado com a alta burguesia, defende uma monarquia esclarecida. Em 1851, dirigida por Diderot e D'Alembert, aparece a Enciclopédia, cultuando a razão, o progresso e as ciências. Importante papel desempenhou também Jean-Jacques Rousseau, autor de O contrato social, defensor de um governo burguês e do ideal de "bom selvagem (“o homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe”; portanto, o homem deveria voltar-se para o refúgio da natureza pura).
Combate-se a mentalidade religiosa criada pela Contra-Reforma, nega-se a educação jesuítica praticada nas escolas, valoriza-se o estudo científico e as atividades humanas, num verdadeiro retorno à cultura renascentista. É, portanto, neste contexto, que aparece em Portugal, no ano de 1746, a obra O verdadeiro método de estudar do padre Luís Antonio Verney, na qual é proposta uma reforma geral do ensino com base em idéias iluministas. Em sua obra, Verney ataca o “método português de pregar” e classifica o barroco como sinônimo de mau gosto, de perversão do engenho e da razão.
Foi nesse contexto de fermentação filosófica e lutas políticas que surgiu o Arcadismo, voltado para um novo público consumidor, formado pela burguesia e pela classe média. Como expressão artística dessas camadas sociais, o Arcadismo (ou Neoclassicismo) identifica-se com as idéias da Ilustração e veicula-as sob a forma de valores que se opõem ao tipo de vida levado pelas cortes aristocráticas e à arte que consumiam: o Barroco.
Daí a idealização da vida natural, em oposição à vida urbana; a humildade, em oposição aos gastos exorbitantes da nobreza; o racionalismo, em oposição à fé; a linguagem simples e direta, em oposição à linguagem rebuscada do Barroco. Esses valores artísticos e culturais assumiram, no contexto da sociedade européia do século XVIII, um significado de clara contestação política, já que flagravam os privilégios da nobreza e do clero e propunham uma sociedade mais justa, racional e livre.
A linguagem árcade é a expressão das idéias e dos sentimentos do artista do século XVIII. Seus temas e sua construção procuram adequar-se à nova realidade social vivida pela classe que a produzia e a consumia: a burguesia. A literatura tem por objetivo restaurar o equilíbrio por meio da razão.
Características:
  • Arte ligada ao Iluminismo. Oposição ao absolutismo despótico e ao poder da Igreja.
  • Afirmação orgulhosa da racionalidade: Razão = Verdade = Simplicidade e clareza.
  • Culto da simplicidade.
  • Imitação dos clássicos gregos.
  • Bucolismo: adequação do homem à harmonia e serenidade da natureza.
  • Pastoralismo: celebração da vida pastoril, vista como um eterno idílio;
  • Ausência de subjetividade. O autor não expressa o seu próprio eu, adota uma forma pastoril (pseudônimo).
  • Amor galante: o amor é entendido como um conjunto de fórmulas convencionais. Na poesia árcade, as situações são artificiais; não é o próprio poeta quem fala de si e de seus reais sentimentos. No plano amoroso, por exemplo, quase sempre é um pastor que confessa o seu amor por uma pastora e a convida para aproveitar a vida junto à natureza. Convencionalismo amoroso que impede a livre expressão dos sentimentos: o que mais importava ao poeta árcade era seguir a convenção, fazer poemas de amor como faziam os poetas clássicos, e não a expressão dos sentimentos.
  • Fugere urbem (fuga da cidade): influenciados pelo poeta latino Horácio, os árcades defendiam o bucolismo como ideal de vida, isto é, uma vida simples e natural, junto ao campo, distante dos centros urbanos. Tal princípio era reforçado pelo pensamento do filósofo francês Jean Jacques Rousseau, segundo o qual, a civilização corrompe os costumes do homem, que nasce naturalmente bom.
  • aurea mediocritas: idealização de uma vida pobre e feliz no campo, em oposição à vida luxuosa e triste na cidade (exaltação do trabalho manual e do sentimento, em oposição ao artificialismo e às facilidades da vida urbana).

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