“O Ford Modelo T, o carro que colocou o mundo sobre rodas, está prestes a completar 100 anos. O primeiro exemplar começou a ser produzido em 27 de setembro de 1908, em Detroit, nos Estados Unidos. O sucesso foi instantâneo. De mecânica simples, fácil de dirigir e barato, era a concretização da visão de seu fabricante Henry Ford, sobre o automóvel. Para o industrial, devia ser um veículo utilitário para ser usado pelas pessoas comuns e não, como ocorria, um artigo para milionários. O Modelo T vendeu 15 milhões de unidades até sair de linha, em 1927. Chegou a representar metade da frota mundial de veículos. A outra grande contribuição de Henry Ford à industrialização de massa viria em 1913, como conseqüência do Modelo T. Ao perceberem que o vai-e-vem dos operários entre o estoque de peças e a montagem do carro tomava muito tempo, Henry Ford e seus engenheiros desenvolveram o sistema em que as peças as moviam numa linha de montagem constante. Com isso reduziram o tempo de fabricação de doze horas para 93 minutos e o preço final de 850 para 260 dólares.” (Extraído de “O carro que começou tudo”, Revista Veja, 6 de agosto de 2008, p. 102)
No filme “Tempos Modernos” de 1936, Charles Chaplin satiriza a sociedade industrial capitalista. Carlitos, agora, torna-se um operário e nos apresenta uma sociedade mecanizada, impessoal, em que a velocidade dita a produção em massa, o lucro e o comportamento dos trabalhadores. Dessa maneira, o filme traz à tona uma potente reflexão: qual o limite entre homem e máquina? Quando eles se confundem? Quando o homem passa a ser máquina?
Se vocês ainda não conhecem esse clássico do cinema, corram para alugar o vídeo e assisti-lo! Um trecho do filme: http://www.youtube.com/watch?v=8-UiCnxARJY
Para finalizar esse post, sugiro que vocês leiam na íntegra o poema “Canto ao homem do povo – Charles Chaplin”, de Carlos Drummond de Andrade. Coloco a seguir alguns trechos, mas vocês podem encontrar o poema completo aqui.
I
Era preciso que um poeta brasileiro,
não dos maiores, porém dos mais expostos à galhofa,
girando um pouco em tua atmosfera ou nela aspirando a viver
como na poética e essencial atmosfera dos sonhos lúcidos,
(...)
Para dizer-te como os brasileiros te amam
e que nisso, como em tudo mais, nossa gente se parece
com qualquer gente do mundo - inclusive os pequenos judeus
de bengalinha e chapéu-coco, sapatos compridos, olhos melancólicos,
(...)
Não é a saudação dos devotos nem dos partidários que te ofereço,
eles não existem, mas a de homens comuns, numa cidade comum,
nem faço muita questão da matéria de meu canto ora em torno de ti
como um ramo de flores absurdas mando por via postal ao inventor dos jardins.
Falam por mim os que estavam sujos de tristeza e feroz desgosto de tudo,
que entraram no cinema com a aflição de ratos fugindo da vida,
são duras horas de anestesia, ouçamos um pouco de música,
visitemos no escuro as imagens - e te descobriram e salvaram-se.
Falam por mim os abandonados da justiça, os simples de coração,
os parias, os falidos, os mutilados, os deficientes, os indecisos, os líricos,
os cismarentos,
os irresponsáveis, os pueris, os cariciosos, os loucos e os patéticos.
(...)
Uma cega te ama. Os olhos abrem-se.
Não, não te ama. Um rico, em álcool, é teu amigo e lúcido repele
tua riqueza. A confusão é nossa, que esquecemos
o que há de água, de sopro e de inocência
no fundo de cada um de nós, terrestres. Mas, ó mitos
que cultuamos, falsos: flores pardas,
anjos desleais, cofres redondos, arquejos poéticos acadêmicos; convenções
do branco, azul e roxo; maquinismos,
telegramas em série, e fábricas e fábricas
e fábricas de lâmpadas, proibições, auroras.
Ficaste apenas um operário
comandado pela voz colérica do megafone.
És parafuso, gesto, esgar.
Recolho teus pedaços: ainda vibram,
lagarto mutilado.
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