Achei bem interessante o texto da jornalista Lúcia Hipólito sobre a diminuição da participação dos jovens nas eleições. Trata-se de uma matéria bastante atual que complementa a reflexão que iniciamos com o poema “O Analfabeto político”, de Brecht.
“Durante a Constituinte, a UNE e outros movimentos estudantis lançaram a campanha “Se liga 16”, para conscientizar os jovens sobre a importância do voto e para convencer a Constituinte a diminuir a idade mínima para votar. Como resultado da campanha, a Constituição de 88 adotou o voto facultativo para jovens de 16 e 17 anos. Nas primeiras eleições, foi maciço o alistamento eleitoral dos jovens. Entretanto, desde 2004 este número vem caindo consistentemente, confirmando o enorme desencanto dos jovens com a política. Vamos aos números. Entre 2004 e 2008, o eleitorado brasileiro total cresceu 7,43%, de 121 milhões para 130,6 milhões.
(...)
Em movimento contrário, o eleitorado de 16 e 17 anos teve uma queda, entre 2004 e 2008, de 19%: caiu de 3,6 milhões para 2,9 milhões de eleitores jovens. Na cidade do Rio de Janeiro, então, a queda foi brutal: 35%, de 42,9 mil para 27,4 mil eleitores de 16 e 17 anos.
(...)
Ganhe ou não as eleições americanas, Barack Obama já tem o indiscutível mérito de ter trazido a juventude americana de volta para a política. Nos Estados Unidos, os jovens não tinham tamanha participação política há quase 40 anos. Mas no Brasil, a sucessão de escândalos impunes desde 2004 gerou na sociedade em geral, e nos jovens em particular, um tremendo desencanto com a política e os políticos. Mensalão, aloprados, sanguessugas, violação do sigilo do caseiro, cartões corporativos, dossiê contra Fernando Henrique e Ruth Cardoso, Daniel Dantas, a idéia de roubalheira generalizada e impune. Tudo isto afasta o jovem da política. A sensação de impunidade, de que todos são iguais, “farinha do mesmo saco”, de que todos estão na política para “se arrumar”. A desilusão é grande. E há também, não vamos nos esquecer, uma convicção generalizada – e não apenas entre os jovens – de que a política não afeta a vida quotidiana dos brasileiros. A economia vai bem, o que é verdade. As pessoas estão comendo e comprando mais, o que também é verdade. Os empresários estão produzindo como nunca. Verdade também. Os banqueiros não conseguem parar de rir. Verdade verdadeira. Então, por que se preocupar com a política? Este é um grave equívoco. Equívoco que leva as pessoas de bem a abandonar a política nas mãos de... vocês-sabem-quem. Contra isso, estudantes estão tentando reativar o “Se liga 16”. No Estado do Rio, o TRE se associou ao projeto. Escolas podem solicitar palestras e mesmo uma eleição simulada, para incentivar a participação dos jovens. Para 2008, o slogan da campanha é “Vai ficar em cima do muro? Mude sua cidade para mudar o Brasil. Tire seu título: Se liga 16!” Sem a energia, o entusiasmo e a dedicação dos jovens, não vamos muito longe. Vamos participar, moçada.” (Trechos do post “Se liga 16”, da jornalista Lúcia Hipólito em 5 de agosto de 2008 em seu Blog “A política trocada em miúdos”, http://oglobo.globo.com/pais/noblat/luciahippolito )
9 comentários:
Admito que sou um adepto dessa nova geração menos enérgica, e principalmente por tudo que está escrito ai em cima professora. Infelizmente, como venho dizendo nos outros comentários, é muito difícil mudar esse quadro, o "tudo de ruim na política" tem bases fortes e antigas, nos cercam de todos os lados chegando até a aliar-se com marginais (não que eles não sejam).
Até os jovens mais revolucionários de hoje em dia são diferentes, muitos colocam uma camisa do Che e apertam um só pra dizer: Isso ai tá errado, vamo bater panela!
Quando existirem mais jovens determinados MESMO, quem sabe eles irão contagiar mais jovens e uma mudança começará ?
Danilo, apesar de ser difícil, mudar esse quadro não é impossível.
Sobre isso, lembrei de um poema de João Cabral de Melo Neto chamado "Tecendo a manhã" (atenção para o jogo de palavras do título!). Ele é assim:
I
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
II
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
Bjs
Como esses jovens de 16 e 17 anos têm essa opção de votar ou não, diante desse contexto de desilusões políticas, mtos preferem abrir mão desse direito. Concordo com os jovens que preferem se abster desse direito, pois é melhor do que votar em alguém q não irá assumir bem a sua posição de governador, presindente e etc. Com certeza agindo assim a política continuará "suja" como está. Os jovens dessa geração não fazem questão de se levantar e reivindicar contra toda essa "sujeira" que temos visto na política, apenas alguns têm determinação pra lutar contra isso, mas infelizmente "um galo só não tece uma manhã".
AH! Levantando mais uma questão sobre o voto: sendo o Brasil um país democrático, acho que o voto deveria de ser opcional, isso evitaria muitos votos inconscientes.
Chali,
concordo plenamente com a idéia do voto opcional.
Muito boas as suas colocações, viu?
Continue expressando suas opiniões, afinal, o nosso blog é para isso. Estou adorando a participação!
Beijos
Queridos,
achei um texto muito legal na Folha de São Paulo de 17 de agosto, sobre o voto obrigatório e a necessidade de repensá-lo.
O artigo é asssinado pelo escritor Carlos Heitor Cony e vale a pena ser lido:
"Recente pesquisa divulgada na semana que acaba revelou que grande parcela do eleitorado nacional é contra o voto obrigatório. Não se trata, ainda, de maioria, mas de simples tendência que está indicando a conveniência de uma discussão formal sobre o assunto.
Uma sociedade é livre na medida em que são mínimas as exigências obrigatórias: os códigos civil, penal, de trânsito e outros de igual necessidade são suficientes para manter direitos e deveres das comunidades e dos cidadãos.
O voto obrigatório é a causa principal que cria os currais eleitorais, os votos de cabresto. Por um motivo qualquer, o cidadão não tem interesse na vida pública, por falta de educação ou por excesso dela. Obrigado a votar, para não sofrer sanções que não chegam a ser punitivas mas apenas incômodas, cumprem o chamado dever cívico com má vontade, votando em qualquer um, ou em candidatos extravagantes que nem chegam a ser candidatos, como no caso do bode Cheiroso.
Grandes massas de eleitores, sobretudo nas cidades pequenas, são facilmente manobradas por coronéis e donos de redutos que formam os grotões - tradicional fonte de votos para políticos fisiológicos que tentam a vida pública para a realização de uma carreira pessoal problemática.
Até mesmo no caso da eleição para presidente da República, quando o eleitorado recebe maiores esclarecimentos e está em jogo uma esperança, os indecisos e nauseados são cada vez em maior número, criando a realidade da "boca de urna", o voto de última hora, apenas para cumprir o dispositivo do voto obrigatório.
Nem vale a pena citar os países de tradição democrática em que votar ou não votar é um direito do cidadão livre. Sob regimes ditatoriais, a presença dos eleitores nas urnas chega a 99%."
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