segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Poesia Concreta

Criada por Décio Pignatari e pelos irmãos Haroldo de Campos e Augusto de Campos, a poesia concreta atacava a produção poética da sua época, dominada pela geração de 1945, a quem os jovens paulistas acusavam de verbalismo, subjetivismo, falta de apuro e incapacidade de expressar a nova realidade gerada pela revolução industrial.
Esses poetas buscavam retomar o modernismo brasileiro dos anos 20, restaurando seu espírito rebelde e vanguardista. Tiveram como inspiração os poetas Oswald de Andrade e João Cabral de Melo Neto (o "poeta engenheiro", objetivo, conciso, que só cronologicamente pode ser colocado na geração de 45).
Cronologia
  • 1952 Criação do Grupo Noigandres, por Décio Pignatari e Haroldo e Au­gusto de Campos. Surge o primeiro número da revista "Noigandres''.
  • 1953 Viagem de Pignatari à Europa, onde ele se encontra com o poeta suíço-boliviano Eugen Gomringer, que realiza na Alemanha experimentações poéti­cas próximas da dos brasileiros.
  • 1955 Augusto utiliza pela primeira vez a expressão "poesia concreta''.
  • 1956 A Exposição Nacional de Poesia Concreta é realizada em São Paulo.
  • 1957 A exposição é mostrada no Rio de Janeiro.
  • 1958 É publicado em "Noigandres 4'' o "Plano-Piloto para Poesia Concreta''.
Características
  • Abolição do verso tradicional: eliminação dos laços sintáticos (preposições, conjunções, pronomes, etc.), gerando uma poesia objetiva, concreta, feita quase tão somente de substantivos e verbos;
  • Estrutura verbivocovisual: valorização do campo visual, do aspecto gráfico da letra, da cor e da disposição das palavras;
  • Ideograma: apelo à comunicação não-verbal;
  • Metacomunicação: simultaneidade da comunicação verbal e não-verbal;
  • Atomização: comumente as palavras são desmanchadas, criando outras significações;
  • Polissemia: múltiplos significados de palavras e de imagens;
  • Explicitação da materialidade da linguagem sob os aspectos visual e sonoro;
  • Ênfase no caráter não-discursivo da poesia com supressão ou relativização dos elos sintáticos.
Décio Pgnatari, Beba coca-cola, 1957.
Atenção! As pausas, os brancos, as experimentações tipográficas e a posição assimétrica das linhas são signos que constroem a poesia. O espaço gráfico é funcional e passa a significar tanto quanto as palavras. Com a nova estrutura espaço-temporal, as palavras são apresentadas numa estrutura dinâmica de múltiplos movimentos simultâneos. Assim o poema torna-se um objeto passível de manipulação, permitindo múltiplas leituras (pode ser lido de cima para baixo, da direita para a esquerda, em diagonal etc.). Nesse sentido, o leitor é obrigado a ser ativo, a entrar no jogo do poema, pois sua leitura passa a construir o poema.

Ronaldo Azeredo, Velocidade, 1958.

José Lino Grünewald, Vai e vem, 1959.
E. M. de Melo e Castro, Pêndulo, 1961.
Augusto de Campos, O Pulsar, 1975.
Trecho de Galáxias (1963) de Haroldo de Campos:
"e começo aqui e meço aqui este começo e recomeço e remeço e arremesso e aqui me meço quando se vive sob a espécie da viagem o que importa não é a viagem mas o começo da por isso meço por isso começo escrever mil página escrever milumapáginas para acabar com a escritura para começar com a escritura para acabarcomeçar com a escritura por isso recomeço por isso arremeço por isso teço escrever sobre escrever é futuro do escrever sobrescrevo sobreescravo em milumanoites miluma- páginas ou uma página em uma noite que é o mesmo noites e páginas mesmam ensimesmam onde o fim é o comêço onde escrever sobre o escrever é não escrever sobre não escrever e por isso começo descomeço pelo descomêço desconheço e me teço um livro onde tudo seja fortuito e forçoso um livro onde tudo seja não esteja seja um umbigodomundolivro um umbigodolivromundo um livro de viagem onde a viagem seja o livro ser do livro é a viagem por isso começo (pois) a viagem é o comêço e volto e revolto (pois) na volta recomeço reconheço remeço um livro é o conteúdo do livro e cada página de um livro é o conteúdo do livro e cada linha de uma página e cada palavra de uma linha é o conteúdo da palavra da linha da página do livro um livro ensaia o livro todo livro é um livro de ensaio de ensaios do livro por isso o fim- comêço começa e fina recomeça e refina se afina o fim no funil do comêço afunila o comêço no fuzil do fim no fim do fim recomeça o recomêço refina o refino do fim e onde fina começa e se apressa e regressa e retece há milumestórias na mínima unha de estória por isso não conto por isso não canto por isso a nãoestória mes desconta ou me descanta o avesso da estória que pode ser escória que pode ser cárie que pode ser estória tudo depende da hora tudo depende da glória tudo depende de embora e nada e néris e reles e nemnada de nada e nures de néris de reles de ralo de raro e nacos de necas e najas de nillus e nures de nenhures e nesgas de nulla res e nenhumzinho de nemnada nunca pode ser tudo pode ser todo pode ser total tudosomado todo somassuma de tudo suma somatória do assomo do assombro e aqui me meço e começo e me projeto eco do comêço eco do eco de um comêço em eco no soco de um comêço em eco no oco eco de um soco no osso e aqui ou além ou aquém ou lá acolá ou em toda parte ou em nenhuma parte ou mais além ou menos aquém ou mais adiante ou menos atrás ou avante ou paravante ou à ré ou a raso ou a rés começo re começo rés começo raso começo que a unha-de-fome da estória não me come não me consome não me doma não me redoma (pois) no osso do comêço só conheço o osso o ossso buco do comêço a bossa do comêço onde é viagem onde a viagem é maravilha de tornaviagem é tornassol viagem de maravilha onde a migalha a maravalha a apara é maravilha é vanilla é vigília é cintila de centelha é favila de fábula é lumínula de nada e descanto a fábula e desconto as fadas e conto as favas (pois) começo a fala (...)"
Quer saber mais sobre poesia concreta?
Site sobre Augusto de Campos
Site sobre Haroldo de Campos
Por fim, vale a pena citar dois vídeos interessantíssimos:
Esse foi feito pela TV Cultura e tem Caetano Veloso cantando/recitando o poema "O Pulsar" :
Esse outro é fantástico! Trata-se de uma adaptação para o audiovisual dos poemas concretos "Cinco" (de José Lino Grunewald, 1964), "Velocidade" (de Ronald Azeredo, 1957), "Cidade" (de Augusto de Campos, 1963), "Pêndulo" (de E.M. de Melo e Castro, 1961/62) e "O Organismo" (de Décio Pignatari, 1960). Direção: Christian Caselli.
Então, o que me dizem?

2 comentários:

handrews disse...

Nossa... muito legal o seu blog... A parte dedicada à Poesia Concreta me ajudou muito, pois precisava de material para dar uma aula de estágio sobre o tema e queria algo diferente, como os vídeos... Obrigada mesmo!!!!

Luciana Messeder disse...

Olá Handrews,
fico muito contente em ter ajudado!
Seja bem-vinda ao blog!
Abraços,
Luciana